10 livros para pensar sobre temas raciais neste Dia da Consciência Negra

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Definido em 2011, o Dia da Consciência Negra nasceu como uma celebração restrita a alguns estados, tornando-se feriado nacional apenas no ano passado. A escolha do dia 20 de novembro tem uma razão de ser: é a data da morte de Zumbi dos Palmares, importante líder quilombola do século 17. A consolidação da data, fruto de uma longa trajetória de reconhecimento e luta, está ligada a marcos como a Lei nº 7.716/1989, que definiu os crimes de raça e cor no Brasil, e a Lei nº 10.639/2003, que tornou obrigatório o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira nas escolas.

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Segundo o IBGE (2022), o país abriga mais de 112 milhões de pessoas negras (20,6 milhões de pretos e 92,1 milhões de pardos). O número reforça a importância de refletir sobre essa identidade, que mesmo formando maioria numérica, ainda é historicamente invisibilizada no Brasil. Na coluna deste mês, reunimos obras que celebram a potência da negritude, convidando à leitura como forma de memória, reparação e orgulho.

1. Uma negra comédia, de Fábio Gonçalves

 Danúbio Editora Uma negra comédia — Foto: Danúbio Editora

Em Uma Negra Comédia, o professor de linguagens Fábio Gonçalves (@fabio.gcalves) narra a história de um jovem que cresce na periferia da zona sul da capital paulista, nos anos 1990, à medida que traça um retrato multifacetado do Brasil. A obra mistura humor, tragédia e ironia sob uma prosa envolvente.

"Eu comecei a escrever o romance em 2019 muito influenciado pela leitura de 'Menino de Engenho', de José Lins do Rego, um clássico da nossa literatura", contou o autor, em entrevista ao site da Câmara de São Paulo. "Eu queria, assim como ele, deixar um retrato da minha infância, não em uma antiga fazenda de açúcar, mas na periferia de São Paulo, onde eu nasci".

2.A Outra Garota Negra, por Zakiya Dalila Harris

 Intrínseca A Outra Garota Negra — Foto: Intrínseca

Única funcionária negra de sua editora, Nella está cansada de se sentir isolada em um ambiente onde a diversidade parece não ter lugar. A chegada de Hazel, outra mulher negra, surge como um alívio — finalmente, alguém com quem dividir experiências e desafios. Mas o que começa como um sinal de esperança logo se transforma em inquietação: mensagens anônimas e ameaçadoras colocam Nella em um estado de paranoia e dúvida sobre quem realmente é sua aliada.

Esse é o ponto de partida de A Outra Garota Negra, romance de estreia da escritora americana Zakiya Dalila Harris, que combina crítica social, suspense e uma análise afiada sobre o racismo e as dinâmicas de poder no ambiente corporativo. Formada em escrita criativa, Harris teve textos publicados em revistas literárias como Guernica e The Rumpus, e trabalhou por quase três anos no mercado editorial antes de se dedicar à literatura. Nascida em Connecticut, ela vive atualmente no Brooklyn, em Nova York.

3. A Rainha da Rua Paissandu, por Ruth de Souza e Lázaro Ramos

 Intrínseca A Rainha da Rua Paissandu — Foto: Intrínseca

Pouco antes de morrer, aos 98 anos, a grande dama da dramaturgia brasileira Ruth de Souza compartilhou com o ator Lázaro Ramos, conhecido por suas atuações em novelas da TV Globo, relatos sobre sua trajetória e legado. O resultado dessas conversas está reunido no livro A Rainha da Rua Paissandu, da Editora Intrínseca.

Nascida no subúrbio do Rio de Janeiro, Ruth foi a primeira atriz negra a se apresentar no Theatro Municipal do Rio de Janeiro e a primeira brasileira indicada a um prêmio internacional de cinema. Ainda jovem, começou a atuar em peças e, com pouco mais de 20 anos, entrou no Teatro Experimental do Negro, grupo que abriu caminho para os artistas negros no Brasil.

“Para compreendê-la, é fundamental ter em mente que ela foi uma pioneira, o que significa ter ocupado uma posição sem muitas referências prévias. Ruth foi alguém que lutou pelo justo direito de pessoas negras terem seu espaço e de o povo poder ver a diversidade que o constitui representada nas artes”, afirma o ator e escritor, em comunicado.

4.Pele negra, máscaras brancas, por Frantz Fanon

 Ubu Editora Pele negra, máscaras brancas — Foto: Ubu Editora

Publicado em 1952, Pele negra, máscaras brancas é considerado um dos textos mais influentes dos movimentos de luta antirracista e uma leitura fundamental para compreender o racismo no ocidente.

Na obra, Frantz Fanon combina relatos pessoais e experiências de outros personagens para revelar os efeitos profundos do racismo sobre a mente e a identidade das pessoas negras. Nascido na ilha francesa da Martinica, o autor transforma suas vivências como homem negro em uma reflexão poderosa sobre o impacto psicológico e existencial da discriminação.

Com uma escrita que une poesia e análise intelectual, Fanon articula conceitos da filosofia, psicanálise, psiquiatria e antropologia, dialogando com pensadores como Hegel, Sartre, Lacan, Freud e Aimé Césaire.

5. Pequeno manual antirracista, por Djamila Ribeiro

Companhia das Letras, 136 páginas | Impresso: R$ 40,10 / E-book Kindle: R$ 9,95

 Companhia das Letras Pequeno manual antirracista — Foto: Companhia das Letras

A filósofa e ativista Djamila Ribeiro criou um pequeno manual de onze capítulos curtos para aqueles que queiram aprofundar sua percepção sobre discriminações racistas estruturais. O livro foi ganhador em 2020 do Prêmio Jabuti na categoria Ciências humanas.

"Disseram-me que a população negra era passiva e que "aceitou" a escravidão sem resistência. Também me contaram que a princesa Isabel havia sido sua grande redentora. No entanto, essa era a história contada do ponto de vista dos vencedores, como diz Walter Benjamin", reflete Ribeiro, na introdução.

6. Nasci Odara, por Ana Marice Teixeira Ladeia

 Editora Labrador Nasci Odara — Foto: Editora Labrador

A obra Nasci Odara nasce do encontro entre Ana Marice Teixeira Ladeia, médica branca e cisgênero, e Odara, mulher trans, preta e periférica. Ao longo do livro, Ana Marice adota uma postura de escuta atenta, permitindo que a voz de Odara conduza a narrativa.

A protagonista compartilha sua trajetória, da infância à vida adulta. Em paralelo, a narradora reconhece nas experiências de Odara emoções que também lhe são familiares e enriquece o relato com informações precisas sobre o processo de redesignação de gênero, resultado de entrevistas com médicos e psicólogos.

"Vivo como se eu não fosse uma pessoa inteira e real. Sinto que existem dois mundos, o mundo que transborda dentro de mim e que já não cabe no meu corpo e o mundo dos que me veem e me julgam. Tenho vomitado tudo que como. Vomito muito mais que comida, vomito dores, preconceitos e a hipocrisia da sociedade", diz um trecho bem poético da obra.

7. Uma preta em Paris, por Isabelle Mesquita

 Scortecci Editora Uma preta em Paris — Foto: Scortecci Editora

Isabelle Mesquita, mulher negra, artista e escritora, narra na autobiografia Uma Preta em Paris sua trajetória entre o subúrbio da Pavuna, no Rio de Janeiro, e as ruas da capital francesa. Enfrentando desde cedo os desafios impostos pelo racismo e pela desigualdade, ela transforma sua vivência em potência criativa e política. Ao empreender no ramo da moda na França, leva consigo uma bagagem de experiências que moldam sua visão de mundo e dão origem a uma narrativa honesta sobre pertencimento e resistência.

Com linguagem sensível, Mesquita costura memórias da infância, reflexões sobre raça, gênero e classe, e a construção de uma carreira marcada pela arte e pelo ativismo. Ao longo de 37 capítulos ilustrados, ela relata as dificuldades de viver como imigrante em Paris e o processo de criação do Isabelle Mesquita Studio, projeto que une moda ética, arte e ancestralidade.

8. Os tambores de São Luís em quadrinhos, por Josué Montello, Iramir Araújo, Ronilson Freire e Rom Freire

 Ira Editora Os Tambores de São Luís em quadrinhos — Foto: Ira Editora

Para celebrar seus 50 anos, o romance histórico Tambores de São Luís, de Josué Montello, ganha uma versão em quadrinhos que traduz, de forma leve e divertida, a grandiosidade da obra original. Publicado em 1975, o clássico de mais de 400 páginas aborda a escravidão e a saga de resistência do negro Damião, que percorre as ruas de São Luís para conhecer o trineto recém-nascido.

“Algumas cenas que eu percebi que poderiam ser retiradas sem prejuízo da obra, foram retiradas. Você adapta, então você faz escolhas. Eu tive que escolher o que poderia sair sem que a obra ficasse comprometida. Mas, no geral, eu tenho um respeito máximo pela obra original, e isso pode ser verificado quando você lê”, conta o historiador Iramir Araújo, responsável pelo roteiro da HQ, em depoimento à Agência Brasil.

9. Errantes, por Rešoketšwe Manenzhe

 Record Errantes — Foto: Record

A aldeã e contadora de histórias sul-africana Rešoketšwe Manenzhe traça em Errantes uma narrativa que acontece em 1927, quando a África do Sul aprova a Lei da Imoralidade, que proíbe relações entre “europeus” (brancos) e “nativos” (negros). Nesse contexto, acompanhamos a saga familiar de Abram, sua esposa, Alisa, e suas duas filhas.

Abram acredita que sua família não será afetada pela lei, até que oficiais começam a interrogar a escola das meninas e sua propriedade passa a ser vigiada. Alisa, então, toma uma decisão devastadora, enraizada em seu passado e na memória coletiva, transformando para sempre o destino dos personagens.

"Este é um aspecto e um período da história sul-africana particularmente negligenciados na literatura", considera a autora, em entrevista ao site Pen America. Ela critica o fato da maioria dos livros se concentraram em histórias masculinas. "Além disso, a grande maioria da literatura tende a se concentrar nos anos do Apartheid, sem nunca examinar suficientemente os fatores que levaram à implementação do regime", acrescenta.

10. A cor que nos separa, por Daniel Tonetto

 AVEC Editora A cor que nos separa — Foto: AVEC Editora

O advogado Daniel Tonetto, especialista em Ciências Criminais e mestre em Direito pela Universidade Autônoma de Lisboa, apresenta seu novo livro A cor que nos separa, uma reflexão contundente sobre o racismo estrutural no Brasil. Com linguagem sensível e acessível, o título rapidamente conquistou o público, figurando entre os mais vendidos de veículos como Veja, O Globo e PublishNews, ao lado de grandes nomes da literatura brasileira.

O enredo gira em torno de Theodora Borges, uma médica e física quântica que, ao receber o Prêmio Nobel, revela uma história familiar que atravessa gerações. Sua narrativa nos leva de volta ao início do século 20, nas planícies dos pampas gaúchos, onde nasceu seu tio Stefano Veras, um jovem pobre criado em uma fazenda marcada por segredos, tensões raciais e conflitos morais.

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