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O parlamento japonês elegeu esta terça-feira a ultraconservadora Sanae Takaichi como a primeira mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra do país, uma conquista histórica que ocorre um dia após o seu partido, em dificuldades, ter fechado um acordo de coligação com um novo parceiro que levará o seu bloco governamental ainda mais para a direita.
Numa votação parlamentar, os legisladores da Câmara Baixa votaram em Takaichi com 237 votos, mais do que o necessário para uma maioria simples. Já tinha vencido a votação na Câmara Alta, menos poderosa, do parlamento.
Takaichi substituirá o primeiro-ministro Shigeru Ishiba, pondo fim a um vazio político e disputas que duraram três meses desde a desastrosa derrota eleitoral do Partido Liberal Democrático em julho.
Ishiba, que permaneceu no cargo por apenas um ano, renunciou com o seu governo na terça-feira, abrindo caminho para o sucessor.
Quem é Sanae Takaichi?
Nascida em 1961 na província de Nara, a mãe de Takaichi era agente da polícia e o pai trabalhava num escritório. Era conhecida por andar sempre com com baquetas, que frequentemente partia, pois era uma baterista ávida de heavy metal.
A conservadora não era conhecida na política até à década de 1980, quando as tensões comerciais entre os EUA e o Japão estavam no auge.
Em 1996, foi eleita para um lugar no parlamento pelo Partido Liberal Democrático. Tornou-se conhecida como uma das vozes conservadoras mais expressivas do partido e, desde então, foi eleita deputada dez vezes, com apenas uma derrota.
Embora seja a primeira mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra do Japão, não tem pressa em promover a igualdade de género ou a diversidade.
Takaichi, 64, está entre os políticos japoneses que têm bloqueado medidas para o avanço das mulheres. Apoia a sucessão exclusivamente masculina da família imperial e opõe-se ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e à permissão de apelidos diferentes para casais.
Falou abertamente sobre as suas dificuldades para ter filhos biológicos, mas ajudou a criar três filhos do casamento anterior do seu marido e, num país onde vários primeiros-ministros e deputados são filhos, netos ou até bisnetos de políticos, o seu esforço para subir na carreira política sem laços familiares é, de certa forma, respeitado. No entanto, um grande desafio aguarda Takaichi.
Um grande teste aguarda Sanae
Com uma oposição fragmentada, a aliança improvisada do Partido Liberal Democrata com o partido de direita Partido da Inovação do Japão, ou Ishin no Kai, com sede em Osaka, garantiu a sua nomeação como primeira-ministra, mas o verdadeiro teste ainda está para vir.
Sem maioria nas duas câmaras do parlamento, os partidos precisam de negociar com outros grupos da oposição para aprovar qualquer legislação — um risco que pode tornar o governo instável e de curta duração.
"A estabilidade política é essencial neste momento», afirmou Takaichi na cerimónia de assinatura da coligação na segunda-feira com o líder do Partido da Inovação do Japão e governador de Osaka, Hirofumi Yoshimura. "Sem estabilidade, não podemos promover medidas para uma economia forte ou diplomacia".
Na segunda-feira, os dois partidos assinaram um acordo de coligação sobre políticas que sublinham as visões "hawkish" e nacionalistas de Takaichi.
O acordo de última hora surge 10 dias depois de os liberais democratas terem perdido o seu parceiro de longa data, o Komeito, apoiado pelos budistas, que tem uma posição mais "dovish" e centrista. A separação ameaçou uma mudança de poder para o Partido Liberal Democrata, que tem governado o Japão quase ininterruptamente nas últimas décadas.
Takaichi apresentará um governo com vários membros do aliado Taro Aso e outros que a apoiaram na votação para a liderança do partido.
O Partido da Inovação do Japão não ocupará cargos ministeriais até que o partido esteja confiante na sua parceria com os liberais democratas, disse Yoshimura.
O desafio da economia e da política externa
Takaichi está com o prazo apertado — um importante discurso sobre políticas no final da semana, conversas com o presidente dos EUA, Donald Trump, e cimeiras regionais. Precisa de lidar rapidamente com o aumento dos preços e compilar medidas de estímulo à economia até o final de dezembro para lidar com a frustração do público.
Protegida do ex-primeiro-ministro assassinado Shinzo Abe, espera-se que Takaichi siga as políticas dele, incluindo o fortalecimento das forças armadas e da economia, bem como a revisão da constituição pacifista do Japão. Com um poder potencialmente fraco, não se sabe o quanto Takaichi será capaz de realizar.
Quando o Komeito deixou a coligação governamental, citou a resposta negligente do Partido Liberal Democrata aos escândalos de fundos secretos que levaram às suas derrotas eleitorais consecutivas.
O partido centrista também manifestou preocupação com a visão revisionista de Takaichi sobre o passado bélico do Japão e as suas orações regulares no Santuário Yasukuni, apesar dos protestos de Pequim e Seul, que consideram as visitas como uma falta de remorso pela agressão japonesa, bem como os seus recentes comentários xenófobos.
Takaichi suavizou a sua retórica belicista, porém. Na sexta-feira, enviou um ornamento religioso em vez de ir ao santuário.