Qual animal tem mais cromossomos? Resposta mudou em 2025

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Todo mundo aprende na escola: os cromossomos são estruturas que abrigam o DNA e ficam localizados dentro dos núcleos das células. O termo cromossomo (do grego “chroma”, cor, e “soma”, corpo) foi cunhado pelo biólogo alemão Wilhelm von Waldeyer-Hartz em 1888.

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Mas foi só em 1955 que os cientistas conseguiram contar com precisão quantos cromossomos existem nos humanos: 23 pares, totalizando 46. Cada um deles carrega algumas centenas ou milhares de genes, de modo que o genoma humano completo, levando em conta todos os cromossomos, tem entre 20.000 e 25.000 genes.

Antes dessa descoberta histórica de 1955, por mais de 30 anos, acreditou-se que a gente tinha 48. Se esse fosse o caso, ainda ficaríamos muito atrás da borboleta atlas azul (Polyommatus atlantica), uma espécie nativa da cordilheira do Atlas, no Marrocos. Em 2025, os cientistas descobriram que esse inseto tem 229 pares de cromossomos — o maior número entre todos os animais multicelulares do mundo.

Esse número já era cogitado pelos cientistas desde 2015, mas foi só agora que veio a comprovação definitiva. Nesse novo estudo, conduzido pelo Instituto Wellcome Sanger (Reino Unido) e pelo Instituto de Biologia Evolutiva (Espanha), descobriu-se que, ao longo dos milênios, os cromossomos dessa borboleta haviam sido partidos em pontos onde o DNA (que é enrolado por proteínas chamadas histonas) estava organizado de forma mais frágil.

Com isso, embora a informação genética pouco tenha mudado, a quantidade de cromossomos foi se multiplicando ao longo de três milhões de anos de evolução. Eventualmente, a borboleta atlas azul chegou ao seu número recordista.

Parece câncer, mas é evolução

Em geral, essa mudança abrupta no número de cromossomos não é um bom indicador. A ciência tem até um nome para isso: instabilidade cromossômica (CIN). Estudos recentes apontam que a CIN é comum em mais de 90% dos tumores sólidos e muitos cânceres hematológicos, indicando que essas alterações podem promover o desenvolvimento de cânceres e resistência a tratamentos.

No entanto, para a borboleta atlas azul, essas mudanças foram benéficas, pois permitiram que a espécie sobrevivesse ao longo de todo esse tempo. Só agora, devido às mudanças climáticas e aos impactos humanos no meio ambiente, como a destruição das florestas de cedro e a exploração excessiva das pastagens, as populações do animal estão ameaçadas.

Essa aparente contradição abre muitas possíveis linhas de pesquisa para os cientistas. É possível, por exemplo, que a fragmentação dos cromossomos aumente a diversidade genética, o que acaba permitindo uma recombinação mais frequente das partes do genoma. Por outro lado, é possível que espécies com muitos cromossomos também enfrentem desafios extras na natureza devido à complexidade desse arranjo cromossômico. E esses desafios poderiam até mesmo tornar essas espécies mais vulneráveis à extinção ao longo do tempo.

Essas são algumas hipóteses que os cientistas vão precisar explorar daqui pra frente. Mas há outra ainda mais interessante: a ideia de que essa descoberta possa contribuir para as pesquisas sobre o câncer humano. “Para conseguir contar a história do nosso planeta, devemos conhecer a história de cada espécie e ver onde elas se sobrepõem e interagem entre si”, afirma Mark Blaxter, professor do Instituto Wellcome Sanger e um dos autores do estudo.

“Isso também nos permite aplicar aprendizados de um genoma a outro. Por exemplo, o rearranjo de cromossomos também é observado em células cancerígenas humanas, e entender esse processo na borboleta atlas azul pode ajudar a encontrar maneiras de limitar ou interromper isso em células cancerígenas no futuro”, explica.

Será que esse pequeno bichinho, que voa pelas montanhas marroquinas se alimentando de flores de leguminosas, pode acabar ajudando na luta contra o câncer? Vamos ficar de olho.

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