Por que ter renda fixa global com Selic a 15%; Isabella Nunes, da J.P. Morgan, opina

há 1 semana 2
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Com juros historicamente elevados no Brasil, o investidor local acostumou-se a retornos altos sem grandes riscos. Mas esse cenário pode estar deixando oportunidades internacionais valiosas de lado. O alerta foi feito por Isabella Nunes, head de sales da J.P. Morgan Asset Management.

Segundo Isabella, o chamado home country bias — a concentração dos aportes no mercado doméstico — é especialmente forte entre brasileiros. “O Brasil representa menos de 3% do PIB mundial, 2% da renda fixa global e apenas 1% da renda variável. Quando o investidor concentra tudo aqui, deixa de acessar grandes teses de investimento e perde capacidade de proteger patrimônio”, afirmou.

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A executiva destacou que, em 2024, mercados internacionais ofereceram retornos expressivos: bolsas europeias subiram cerca de 27% em dólar, ações americanas avançaram 13% e o mercado de renda fixa de alto rendimento nos EUA entregou ganhos próximos a 7%. “Quem alocou globalmente e simplesmente esperou, está colhendo resultados muito sólidos”, disse.

XP abre espaço para diversificação internacional

O painel fez parte da XP International Week, programa que apresentou tendências macroeconômicas e estratégias de alocação global, incluindo renda fixa, variável e produtos atrelados ao dólar. Para Mayara Rodrigues, analista de renda fixa da XP, o objetivo do evento foi reforçar que a diversificação internacional deixou de ser alternativa distante.

“O investidor precisa refletir sobre como construir um portfólio resiliente, equilibrando preservação de poder de compra e novas oportunidades”

Isabella acrescentou que o acesso a ativos globais nunca foi tão simples. “O mercado evoluiu muito. Hoje, o investidor brasileiro pode acessar estratégias globais com praticidade, sem burocracias que antes eram barreiras”, afirmou.

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Ela lembrou que, enquanto no Brasil muitos investidores se apoiam apenas em pós-fixados atrelados à Selic, no exterior o leque de alternativas é amplo e líquido. “O mercado corporativo de renda fixa dos EUA soma US$ 13 trilhões, contra menos de US$ 500 bilhões no Brasil. Só o segmento de high yield americano é até quatro vezes maior que todo o mercado corporativo local”, comparou.

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Mais liquidez e melhor relação risco-retorno

Além do tamanho, a liquidez chama atenção: o volume médio diário negociado em títulos corporativos nos EUA chega a US$ 50 bilhões, enquanto no Brasil não passa de US$ 1 bilhão. “Lá fora você encontra profundidade de mercado, o que amplia possibilidades de diversificação e de gestão de risco”, ressaltou.

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A executiva exemplificou que investidores podem acessar nomes globais conhecidos, como Ford, Hertz e MGM, em fundos de high yield. “Muitos têm a sensação de que conhecem mais as empresas brasileiras, mas, na prática, consomem marcas globais diariamente. Isso ajuda a desmistificar a ideia de que investir fora é distante da realidade”, afirmou.

Outro ponto favorável é o momento atual dos rendimentos. De acordo com dados do programa Guide to the Market, do J.P. Morgan, os retornos médios de diversos segmentos da renda fixa internacional estão acima da mediana histórica de 10 anos. “No high yield americano, por exemplo, o retorno está em torno de 6,7% ao ano em dólar, num mercado líquido e profundo”, disse.

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A executiva pondera, no entanto, que não se trata apenas de ganhos. “Sempre precisamos falar de risco. O spread, que é o prêmio pago acima da taxa livre de risco, reflete a percepção de mercado sobre companhias e setores. O investidor precisa ter clareza de que maior retorno vem com risco adicional”, explicou.

Mesmo assim, ela defende que a diversificação global é estratégica para brasileiros. “Não se trata de uma competição entre Brasil e exterior, mas de repensar a concentração. Será que faz sentido manter 99% do patrimônio em um mercado que representa apenas 1% da renda variável mundial?”, questionou.

Na visão de Nunes, o cenário global é de cauteloso otimismo, com estímulos fiscais na Europa, ajustes nos EUA e cortes de juros em emergentes.

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“A chance de recessão global diminuiu em relação ao início do ano. Há muitas variáveis, mas vemos espaço para crescimento moderado”

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