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No coração da pequena cidade de Kyle, no Texas, um carvalho centenário apelidado de “Jolene” se tornou protagonista de uma disputa que envolve patrimônio histórico, segurança viária e milhões de dólares em recursos públicos. Oficialmente chamado de Old Stagecoach Heritage Oak Tree, o exemplar da espécie Quercus virginiana será removido de sua localização atual — a apenas 15 centímetros da borda de uma estrada movimentada — e realocado a cerca de 400 metros de distância, em um parque construído especialmente para recebê-lo.
Toda a operação é estimada em um impressionante valor de US$ 932 mil (cerca de R$ 5 milhões), e foi aprovada pelo Conselho Municipal de Kyle em fevereiro deste ano por 6 votos a 1, segundo a emissora local KXAN-TV, afiliada da NBC. A justificativa apresentada pelas autoridades é que a árvore, situada na curva da Old Stagecoach Road, provoca gargalos no trânsito e oferece risco de acidentes.
Um símbolo mais antigo que os EUA
Embora sua idade exata não seja conhecida, estima-se que Jolene tenha cerca de 400 anos — o que significa que o carvalho já estava enraizado no solo texano muito antes da independência dos Estados Unidos, em 1776. Não à toa, muitos moradores enxergam a árvore como um patrimônio natural e cultural da comunidade.
“A árvore é mais antiga que os próprios Estados Unidos. Por isso, acho tão importante preservá-la”, disse o manifestante Casey Landers, em declaração à KXAN-TV. Ele integra o movimento “Save the Porter Oak” (“Salvem o Carvalho Porter”, na tradução para o português), que se mobilizou para protestar contra a retirada da planta do seu local de origem.
Uma petição contrária à realocação já reuniu mais de duas mil assinaturas, conforme relatado pelo portal IFLScience, que repercutiu o caso. Os críticos temem que a mudança possa ser fatal para Jolene, apesar das garantias de acompanhamento técnico.
Transportar uma árvore dessa magnitude não é um processo simples. Com um tronco de 1,3 metro de diâmetro e raízes profundas, Jolene vem sendo preparada para o deslocamento desde julho. Esse processo inclui poda das raízes, irrigação periódica e cultivo do solo para estimular novos brotos.
A responsabilidade pela mudança está a cargo da Environmental Design Inc. (EDI), que é uma empresa especializada em transplante de grandes árvores. Ela foi contratada para realizar a operação e fornecer 24 meses de cuidados pós-realocação. O plano inclui irrigação contínua, aplicação anual de cobertura morta e inspeções mensais feitas por arboristas certificados.
Mesmo assim, os próprios estudos encomendados pela cidade admitem que não há garantias absolutas de sobrevivência de Jolene. “A realocação não garante a sobrevivência”, reconhecem os responsáveis pelo projeto ao IFLScience, destacando que o objetivo é oferecer ao carvalho “a melhor chance possível”.
Tradição vs. modernização
A polêmica que cerca Jolene vai além do simples deslocamento de uma árvore: ela simboliza um dilema recorrente em cidades em expansão — como equilibrar o crescimento urbano e a modernização da infraestrutura com a preservação de símbolos naturais e históricos.
No caso de Kyle, localizada entre San Antonio e Austin, o tráfego crescente pela Interestadual 35 pressiona o município por soluções de mobilidade. As obras de ampliação da Old Stagecoach Road estão programadas para começar em março de 2026, e a realocação de Jolene deve ocorrer no outono de 2025, cerca de 90 dias antes do início das construções, segundo documentos oficiais citados pela KXAN-TV.
Para os favoráveis, o investimento milionário é sinal de respeito à história local. Para os críticos, trata-se de um gasto arriscado com resultados incertos. Seja qual for o desfecho, o futuro de Jolene segue sendo acompanhado de perto por moradores, autoridades e ambientalistas.
Enquanto isso, a árvore permanece em seu posto histórico. Ela aguarda o delicado processo que decidirá se ela continuará a fazer sombra por mais alguns séculos ou se o corte da estrada marcará o fim de sua longevidade.