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Não há cheiro ou gosto diferente. A adulteração por metanol nas bebidas alcoólicas só pode ser constatada por testes laboratoriais. Entre esses exames, pesquisas nascidas em universidades públicas brasileiras ampliam os caminhos para detecção da substância e viram negócios à parte.
Uma pesquisa, por exemplo, que começou na Universidade de Brasília (UnB) em 2013, em um projeto incubado na instituição deu origem à Macrofren, que comercializa kits de testes para empresas privadas e instituições governamentais.
A empresa começou quando o químico Arilson Onésio Ferreira fazia o curso de mestrado. “O projeto surgiu na UnB com um foco específico em trabalhar em combate às fraudes por metanol em combustíveis”, disse Ferreira. A partir das ideias do Laboratório de Materiais e Combustíveis, que tinha à frente o professor Paulo Soares e o aluno Guilherme Bandeira liderando as pesquisas, Ferreira criou uma startup.
“Isso que está acontecendo agora no Brasil já aconteceu na Europa e que foi registrado no documentário Metanol, o líquido da morte’”. O químico chama atenção para o fato que a partir de 30 ml do metanol pode levar uma pessoa à morte.
Segundo o pesquisador, a detecção do metanol na bebida tem uma dificuldade em função da diversidade de formulações, incluindo corantes e açúcares, que podem gerar um teste com falso positivo. “Nunca pode ocorrer um falso negativo”, garante.
O kit com os instrumentos e materiais para fazer um teste custa R$ 50. Depois de adquirir os materiais, o reagente fica em torno de R$ 25 por teste. Para fazer o exame, basta 1 ml da amostra da bebida. Desde o início da crise, os pedidos não param, segundo ele e há 200 empresas na fila de espera. Entre os clientes, produtores de eventos como casamentos e outros eventos.
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Outras iniciativas
Outra pesquisa do tipo acontece no Laboratório Multiusuário de Ressonância Magnética Nuclear, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que abriu as portas ao público em geral para examinar bebidas alcoólicas de forma gratuita, realizando agendamento de interessados.
Segundo o vice coordenador do laboratório, o professor de química Kahlil Salome, o equipamento de ressonância funciona como nos exames de saúde.
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“Colocamos o líquido em um tubo. A análise é muito rápida. A gente consegue analisar uma amostra a cada cinco minutos”, afirmou em entrevista à Agência Brasil.
Para fazer a detecção, bastam algumas gotas da bebida (0,5 mililitro).“Quando a gente coloca a amostra no equipamento, ele devolve um gráfico. Tem várias linhas e uma dessas linhas é referente ao metanol”.
O pesquisador recomenda que as pessoas que tiverem desconfiança da origem de bebidas podem procurar o laboratório. “A gente consegue analisar bem rapidinho”. O pesquisador explica que a detecção é possível mesmo com bebidas com corantes ou frutas.
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O pesquisador em química diz que o exame aponta, por exemplo, a presença da quantidade inadequada ao consumo humano: 10 microlitros de metanol em 100 ml de bebidas como cachaça, vodka e tequila.
O professor defende que a pesquisa na universidade pública traz respostas à sociedade também em momentos de crise como esse.
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“A gente tenta também trazer a população de volta para a universidade. Houve um período de muitos ataques à universidade pública”.
Ele explica que outras universidades federais têm laboratórios do mesmo gênero que poderiam ser acionados para exames sobre a presença de metanol.
Método patenteado
Outra instituição de ensino público com pesquisa sobre detecção de metanol é a Universidade Estadual Paulista (Unesp). Em 2022, pesquisadores do Instituto de Química, em Araraquara, desenvolveram um método capaz de identificar adulterações em bebidas alcoólicas destiladas.
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Patenteado pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), o método usa um tipo de sal no líquido. Se houver metanol, a amostra se transforma em formol. Na sequência, um ácido gera mudanças na coloração da solução. Essas etapas de reação levam cerca de 15 minutos no caso do etanol e das bebidas alcoólicas.
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