
Majur critica o Mês da Consciência Negra e propõe “Dia da Consciência Branca”
A cantora baiana Majur, de 30 anos, foi uma das atrações de destaque da Flup (Festa Literária das Periferias), realizado em Madureira, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Durante conversa com o Portal iG, a artista fez uma reflexão contundente sobre o Mês da Consciência Negra, celebrado em novembro, e questionou o próprio conceito da data.
De forma enfática, Majur afirmou que o nome da celebração deveria mudar. “Primeiro que a gente já deveria trocar o nome da consciência negra por consciência branca, porque não existe consciência para pessoas negras sobre racismo, que é feito por pessoas brancas, produzido por pessoas brancas e fomentado por pessoas brancas", inicou ela.
Para a artista, o debate sobre o tema deve partir desse ponto. Caso contrário, diz ela, a discussão fica esvaziada. Majur não escondeu sua insatisfação com a forma como o mês é tratado: “Eu detesto esse mês. Absolutamente não faz sentido. É um mês onde a gente ganha um protagonismo gigantesco, mas que deveria ser o ano inteiro. Então, já começa errado.”
A cantora criticou ainda a responsabilidade colocada sobre pessoas negras durante novembro, quando, segundo ela, recai sobre esse grupo a tarefa de orientarem os demais sobre questões de raça: “É um mês que nós somos as pessoas que têm que ficar dizendo para as outras o que elas deveriam ou não fazer, sendo que todo mundo sabe o que é certo e o que é errado.”
Alex SantanaMajur conversou com exclusividade com o Portal iG
Majur também apontou a desigualdade estrutural como um problema profundo, que não se resolve com ações pontuais ou discursos de ocasião. Para ela, não há transformação real se as bases não forem alteradas: “A desigualdade foi criada por pessoas que nos enxergam com olhar de meritocracia, que é algo que nem existe num país que não tem igualdade. Transformou mulheres negras em mulheres empreendedoras ricas? Transformou homens e pessoas negras, crianças, dando mais oportunidades? Então, se isso não aconteceu, continua a mesma coisa.”
Em tom provocativo, a artista sugeriu a criação de um “Dia da Consciência Branca”, dedicado ao aprendizado e à responsabilidade de quem, segundo ela, deveria refletir sobre o racismo produzido ao longo da história: “Esse dia, sim, é o dia onde a pessoa branca lê um livro, sabe um pouco no Google, procura pesquisar através de leitores negros, escritores negros. Aí, sim, acho que a gente estaria conversando do lugar perfeitamente bem.”
Ao encerrar, Majur resumiu sua crítica à superficialidade de certas iniciativas voltadas à pauta racial. “É realmente um projeto super falido de dizer que está ajudando, de que vai transformar. Aí eu poderia dar um discurso aqui de parabéns. Ou não", concluiu ela, que em 2025 lançou o álbum 'Gira Mundo', com 16 faixas em Iorubá, exaltando a cultura afro-brasileira.

há 22 horas
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