Jovens ficam sem enxergar após consumir drink em SP; uma vítima está em coma Jovens relatam cegueira após consumir bebidas adulteradas em SP; uma vítima está em coma (Reprodução/TV Globo/Arquivo Pessoal)

há 1 semana 4
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Três jovens foram internados após consumirem bebidas alcoólicas em diferentes locais de São Paulo. Os casos, registrados na capital, ocorrem em meio a suspeitas de intoxicação por metanol presente em produtos adulterados vendidos em bares e adegas.

Dois jovens foram internados após consumirem bebidas alcóolicas em ocasiões diferentes. Rhadarani Domingos relatou ter perdido a visão após consumir caipirinhas em uma festa em um bar localizado em uma região nobre de São Paulo. Já Rafael está internado em estado grave há 28 dias após o diagnóstico de ingestão de produtos adulterados.

O terceiro jovem é Diogo Marques, que estava com Rafael em uma noite entre amigos também na capital paulista. Ao “Fantástico” deste domingo (28), ele explicou que, horas depois de consumir gin com energético, acordou sem enxergar nada. Os casos acontecem em meio a registros de intoxicação por metanol ligados a bebidas alcoólicas adulteradas no estado.

Jovem ficou sem enxergar 

Em chamada de vídeo, Rhadarani disse que ficou cega após beber três caipirinhas de frutas vermelhas com maracujá e vodka. Segundo a designer de interiores, que está internada, as bebidas não tinham nenhum gosto diferente. Elas foram compradas em um bar localizado em uma região nobre da cidade, no dia 19.

“Eu fui em um bar, comemorar o aniversário de uma amiga. Era uma região nobre, não era nenhum boteco de esquina. O que me impressiona é que, teoricamente, a caipirinha é uma dose de vodca, mais frutas, açúcar, gelo. Elas causaram um estrago bem grande. Eu não estou enxergando nada”, afirmou ela.

Rhadarani foi uma das jovens que relatou a perda de visão após o consumo de bebidas alcóolicas (Foto: Reprodução/TV Globo)

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A irmã, Lalita Domingos, foi quem levou Rhadarani para o hospital. A designer chegou a convulsionar na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e precisou ser intubada, no dia 21. “A princípio, ninguém imaginava que seria uma suspeita de intoxicação por metanol. A expectativa é que a gente consiga algum tratamento para que ela volte a enxergar”, pontuou Lalita.

Até o momento, porém, não foi confirmado se realmente houve a intoxicação. O nome do estabelecimento também não foi divulgado pela reportagem. “Eu espero justiça. Eu acho que a gente tem que encontrar os responsáveis. Espero que outras pessoas não passem por isso”, desejou a jovem.

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Rapaz está em coma

Rafael está em coma desde 1º de setembro, quando foi confirmada a intoxicação por metanol. Em um áudio divulgado pelo dominical, ele listava os sintomas que teve. “Só queria ficar deitado. Está tudo rodando, parece que estou com a pressão baixa, sei lá”, detalhou. As bebidas foram compradas em uma adega perto da casa dele, no dia 23 de agosto.

A mãe, Helena Martins, que é enfermeira, descreveu o quadro como irreversível. “Foi removida a toxidade do sangue, porém os danos já tinham afetado a visão e o cérebro. Pelos exames, não tem fluxo sanguíneo. Ele está respirando pelo ventilador. Segundo a medicina, [o quadro dele] é irreversível”, descreveu.

Helena ainda pediu por respostas. “É um crime o que estão fazendo. Eu queria [fazer] um alerta para as autoridades competentes. Hoje é meu filho, amanhã não sei quem pode ser”, observou. Diogo, por sua vez, precisou ficar internado três dias depois que exames confirmaram a presença de metanol em seu sangue. “Acordei, abri os olhos e estava tudo preto, com uma dor de cabeça muito forte. É assustador. Meu amigo está internado há um mês”, recordou. Uma das meninas que estava na reunião também passou mal.

Jovem relata cegueira temporária após beber gin com metanol em SP; amigo segue em coma https://t.co/6TD6c1DTP2 #g1 pic.twitter.com/obs8RkKjn9

— g1 (@g1) September 29, 2025

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Conforme os familiares, o grupo de amigos comprou as bebidas em uma adega conhecida. A polícia apreendeu garrafas de gin no local e as encaminhou para perícia. Ainda não há informações sobre a origem da contaminação.

O metanol é um álcool usado na indústria para solventes e produtos químicos. No corpo humano, se transforma em substâncias tóxicas que atacam fígado, rins, cérebro e nervo óptico, podendo causar cegueira, convulsões e morte.

De acordo com a Vigilância Sanitária de São Paulo e o Centro de Investigação Toxicológica da Unicamp, ao menos 16 pessoas estão sob investigação, com seis confirmações de intoxicação por metanol e três mortes.

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Ao UOL, o Centro de Vigilância Sanitária de São Paulo confirmou que duas mortes ocorreram neste mês, na capital paulista e em São Bernardo do Campo, na grande São Paulo.

Uma das vítimas é um homem de 54 anos, da região da Mooca/Aricanduva (SP). Ele foi atendido por uma unidade de saúde privada em 9 de setembro, após apresentar sintomas de intoxicação, e morreu no dia 15 do mesmo mês. Outras três pessoas permanecem internadas na capital por suspeita de intoxicação.

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Alerta dos médicos

Especialistas reforçam que a busca por atendimento rápido é essencial. O oftalmologista Fábio Ejzenbaum, da Santa Casa de São Paulo, explicou que sintomas como alterações visuais, mal-estar persistente por mais de 12 horas e convulsões são sinais de alerta.

Outros indícios incluem ataxia, sedação, desinibição, dor abdominal, náuseas, vômitos, dor de cabeça, taquicardia, convulsões e visão turva, principalmente após ingestão de bebidas de procedência desconhecida. “Os pacientes podem ter alteração de consciência, ficarem um pouco confusos. Mas, principalmente, o que eles têm são sintomas gastrointestinais, muita cólica abdominal e dor de barriga”, declarou Ejzenbaum.

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O que dizem as autoridades

Em nota, o Governo Federal emitiu um alerta e recomendou que bares e estabelecimentos reforcem a vigilância sobre a procedência dos produtos. “O número de casos registrado, inicialmente, pelo Centro de Informação e Assistência Toxicológica (Ciatox), de Campinas (SP), e encaminhado ao Comitê Técnico do SAR é considerado fora do padrão para o curto período de tempo e também por desviar dos casos até hoje notificados de intoxicação por metanol”, iniciou.

“O Ciatox recebeu, nos últimos dois anos, casos de intoxicação por metanol a partir de consumo de combustíveis por ingestão deliberada em contextos de abuso de substâncias, frequentemente associada à população de rua. Contudo, de acordo com a notificação de hoje, a ingestão se deu em cenas sociais de consumo alcoólico, incluindo bares, e com diferentes tipos de bebida, como gin, uísque e vodca. São registros inéditos no referido centro toxicológico. É possível haver outros casos não notificados, uma vez que nem todos os casos de intoxicação chegam aos órgãos de vigilância e controle”, continuou o texto.

16 pessoas estão sob investigação, enquanto 6 já foram diagnostigadas por intoxicação e 3 vieram a óbito (Foto: Reprodução/TV Globo)

O órgão salientou que os casos podem aumentar durante os finais de semana: “A ingestão acidental ou intencional de metanol leva a intoxicações graves e potencialmente fatais. O cenário de adulteração é particularmente relevante do ponto de vista de saúde pública, pois episódios dessa natureza frequentemente resultam em surtos epidêmicos com múltiplos casos graves e elevada taxa de letalidade, afetando grupos populacionais vulneráveis e exigindo resposta rápida das autoridades sanitárias. Nesse sentido, requer alerta à população, considerando, inclusive, o início do fim de semana, quando há maior frequência a bares e consumo de bebidas alcoólicas”.

“SAR — O Sistema de Alerta Rápido sobre drogas do Brasil (SAR) é um subsistema do Sistema Nacional de Políticas sobre Drogas — Sisnad, gerenciado pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (Senad), vinculado ao Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas (Obid)”, concluiu.

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Já a Secretaria Estadual da Saúde apontou as medidas que estão sendo tomadas. “O Centro de Vigilância Sanitária (CVS) do Estado de São Paulo informa que, desde junho deste ano, foram confirmados seis casos de intoxicação por metanol, dos quais dois resultaram em óbito — um em São Bernardo do Campo e outro na capital. Atualmente, há dez casos sob investigação com suspeita de intoxicação por consumo de bebida contaminada, na capital”, informou.

“O CVS está apoiando e monitorando o trabalho dos Municípios na fiscalização dos estabelecimentos de comércio de bebidas (distribuidoras, bares etc.) envolvidos na comercialização e distribuição dos produtos contaminados. O CVS reforça que o consumo de bebidas alcoólicas de origem clandestina ou sem procedência confiável representa risco à saúde, já que podem conter substâncias tóxicas”, salientou.

O comunicado ainda aconselhou os proprietários dos estabelecimentos. “A recomendação é que bares, empresas e demais estabelecimentos redobrem a atenção quanto à procedência dos produtos oferecidos, e que a população adquira apenas bebidas de fabricantes legalizados, com rótulo, lacre de segurança e selo fiscal, evitando opções de origem duvidosa e prevenindo casos de intoxicação que podem colocar a vida em risco”, concluiu a Secretaria.

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