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Um estudo que gerou grande repercussão ao afirmar que o consumo diário de vinagre de maçã poderia levar a uma perda de peso significativa foi oficialmente removido pelo periódico BMJ Nutrition, Prevention & Health, onde foi originalmente publicado.
A decisão foi anunciada nessa terça-feira (23), depois que uma investigação conduzida pela editora BMJ Group, responsável pela renomada revista científica, concluiu que os resultados divulgados pelos autores não se sustentavam.
O artigo, publicado em janeiro do ano passado, descrevia um ensaio clínico com 120 participantes com sobrepeso e obesidade, entre 12 e 25 anos, que ingeriram pequenas quantidades de vinagre de maçã diluído em água durante três meses. À época, a pesquisa ganhou espaço tanto na imprensa internacional quanto nas redes sociais, mas também despertou desconfiança da comunidade acadêmica.
Críticas da comunidade científica
Entre os principais pontos levantados por especialistas estava a ausência de registro público do ensaio clínico – algo considerado essencial para garantir transparência em projetos desse porte. Também foram questionadas as análises estatísticas utilizadas pelos autores, que, segundo críticos, poderiam ter superestimado os efeitos do vinagre.
Um dos argumentos mais polêmicos do artigo era a comparação dos resultados com os de medicamentos agonistas de GLP-1, como o semaglutida (vendido sob marcas como Ozempic e Wegovy). O estudo sugeria que o vinagre de maçã teria um impacto semelhante na redução de peso.
Se confirmado, tal fato representaria uma revolução na saúde pública e na economia da obesidade. No entanto, para os críticos, essa afirmação soava implausível e carecia de comprovação.
“Caso os dados fossem confiáveis, o impacto seria sem precedentes. Mas, na prática, o estudo não tinha base para essa conclusão”, apontou o epidemiologista Gideon Meyerowitz-Katz, professor da Universidade de Wollongong, na Austrália, em entrevista ao jornal ABC News.
Mas, afinal, o vinagre de maçã emagrece?
Apesar de sua fama em dietas e perfis de influenciadores digitais, não há evidências científicas sólidas de que o vinagre de maçã tenha efeito significativo sobre a perda de peso.
Embora as retratações sejam vistas por parte do público científico como um sinal de falha, especialistas lembram que elas fazem parte do processo de pesquisa.
Meyerowitz-Katz foi cético em sua fala à ABC News quanto ao alcance da retratação. Segundo ele, muitas pessoas que celebraram o estudo original dificilmente ficarão sabendo de sua retirada: “A maioria só viu a manchete nas redes sociais. Poucos acompanharão o desdobramento de ter sido desmentido.”
O caso reacendeu discussões sobre como o público pode avaliar a credibilidade de descobertas científicas. E, para tanto, os especialistas recomendam sempre verificar:
- O repertório e credibilidade do periódico onde o estudo foi publicado;
- A credenciais dos autores em instituições formais e confiáveis (observando, inclusive, possíveis conflitos de interesse);
- O registro público do ensaio clínico que embasa o estudo;
- A existência de estudos semelhantes que confirmem os resultados; e
- A plausibilidade biológica (ou seja, se há um mecanismo realista que explique os efeitos relatados).