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O mercado de capitais vem se consolidando como uma alternativa essencial ao crédito tradicional na incorporação imobiliária, num cenário de juros altos e esgotamento dos recursos da poupança. Para Bruno Gargiolli, diretor de Real Estate da XP Inc, a força desse movimento está na capacidade de inovação e customização das soluções financeiras criadas para o setor.
“A grande beleza do mercado de capitais é a não padronização. Não existe um único produto, mas uma variedade de opções e uma cultura diferente, de construir soluções sob medida”, afirmou durante o painel Mercado de Capitais e Papel das Instituições Financeiras no Crescimento da Incorporação Imobiliária, nesta quinta-feira (9) no evento Incorpora 2025, em São Paulo.
O custo do crédito e o avanço das soluções híbridas
Com o aumento da Selic e a consequente elevação do custo de funding, Gargiolli destacou que o ambiente atual “fez o mercado buscar alternativas criativas para financiar a produção”. Ele citou o avanço de instrumentos híbridos, que transitam entre dívida e capital, como os modelos de “semi-equity” e “equity preferencial”, além do papel crescente dos fundos imobiliários (FIIs) que têm adquirido participações ou estoques de projetos.
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“Essas ferramentas são uma tentativa não só de expandir as obras, mas de reciclar o capital do empresário”, explicou. Segundo ele, o mercado de capitais hoje está “mais preparado para ajudar primeiro na escassez de funding para a construção”, atuando de forma complementar aos bancos.
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CRIs ganham espaço como principal fonte de funding
Entre os instrumentos que ganharam protagonismo, os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) foram apontados como uma das soluções mais eficazes para o financiamento de obras. Gargiolli ponderou que o avanço ainda é desigual entre os elos do setor. “Os CRIs têm sido o produto mais providente, mas o mercado de capitais ainda precisa evoluir na ponta do comprador final. Falta uma solução de longo prazo, com custo e prazo adequados para o consumidor”, afirmou.
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Ele ressaltou que, historicamente, o setor não precisou se preocupar com isso porque “o funding era quase um recurso renovável pela poupança”. A transição, portanto, demanda tempo e adaptação — tanto das incorporadoras quanto dos agentes financeiro.
A migração para o mercado de capitais também impõe novos desafios às empresas de médio porte, como destacou Carla Taynara de Brito Dutra, CEO da MS Empreendimentos. Ela lembrou que o acesso a esse tipo de financiamento requer profissionalização e transparência. “Foi preciso ajustar a gestão, instituir conselhos, adotar auditorias e comprovar a qualidade da governança. É um caminho obrigatório para as incorporadoras que querem acessar esse funding”, afirmou.
Segundo Carla, a mudança é especialmente relevante em mercados regionais, como Santa Catarina, onde há grande número de incorporadoras de médio porte com liquidez e baixo índice de inadimplência. “Somadas, elas têm representatividade e importância muito grandes para o segmento”, completou.
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Inovação regulatória e novos mecanismos de registro
Na visão de Rodrigo Furiato, vice-presidente de Negócios da Núclea, a agenda de modernização regulatória liderada pelo Banco Central deve ampliar o acesso das incorporadoras ao crédito e trazer mais segurança jurídica. Ele destacou que o registro de recebíveis imobiliários e o desenvolvimento de serviços como o “boleto dinâmico” tendem a dar mais transparência e previsibilidade às operações.
“Essas medidas garantem unicidade e publicidade dos registros, facilitando o acesso ao crédito e promovendo competição saudável entre os financiadores”, afirmou Furiato.