ANUNCIE AQUI
A maioria dos cachorros — até mesmo o minúsculo chihuahua — tem níveis baixos, porém detectáveis, de ancestralidade de lobos pós-domesticação. A descoberta, publicada nesta segunda-feira (24) no Proceedings of the National Academy of Sciences, revela traços herdados que podem ter oferecido vantagens únicas para a sobrevivência dos cães em diferentes ambientes humanos.
Segundo cientistas do Museu Americano de História Natural e do Museu Nacional de História Natural do Smithsonian, nos EUA, a ancestralidade de lobo provavelmente influenciou características como tamanho corporal, olfato e traços de personalidade dos cães. Esse impacto aparece em uma ampla variedade de raças — das menores às de grande porte
“Os cães modernos, especialmente os de estimação, podem parecer muito distantes dos lobos, que muitas vezes são demonizados”, observa em comunicado a autora principal do estudo, Audrey Lin. “Mas existem algumas características que podem ter vindo dos lobos e que valorizamos muito nos cães de hoje, características que optamos por manter em sua linhagem. Este é um estudo sobre cães, mas, de muitas maneiras, ele nos diz algo sobre os lobos."
Os cães descendem de uma população extinta de lobos-cinzentos que entrou em contato com humanos há cerca de 20 mil anos, no fim do Pleistoceno. Embora cães e lobos continuassem a viver nas mesmas regiões e pudessem produzir descendentes férteis, a hibridização pós-domesticação era rara. Por isso, acreditava-se que quase todo o material genético compartilhado entre eles havia se perdido ao longo do tempo.
“Antes deste estudo, a ciência mais avançada parecia sugerir que, para um cão ser considerado um cão, não poderia haver muito DNA de lobo presente, se é que haveria algum”, explica Lin. “Mas descobrimos que, se analisarmos com muita atenção os genomas de cães modernos, o DNA de lobo está presente. Isso sugere que os genomas caninos podem ‘tolerar’ o DNA de lobo até um nível desconhecido e ainda assim permanecerem os cães que conhecemos e amamos.”
Para realizar a pesquisa, os cientistas consultaram mais de 2.700 genomas publicados pelo Centro Nacional de Informação sobre Biotecnologia (NCBI) e pelo Arquivo Europeu de Nucleotídeos (ENRA) de lobos, cães de raça, cães de aldeia e outros canídeos, abrangendo o final do Pleistoceno até o presente. Com isso, os autores descobriram que quase dois terços dos cães de raça possuem ancestralidade de lobo em seu genoma nuclear, resultante de cruzamentos que aconteceram há cerca de mil gerações.
Os cães com maior nível de ancestralidade de lobos — entre 23% e 40% de seus genomas — são o cão-lobo checoslovaco e o cão-lobo de Saarloos, ambos criados intencionalmente por meio da hibridização com lobos.
Outras raças que se destacam incluem o Grande Cão Anglo-Francês Tricolor, com entre 4,7% e 5,7% de ancestralidade, e o Pastor de Shiloh, com 2,7%. O Tamaskan, desenvolvido a partir da seleção de huskies, malamutes e outras raças para se assemelhar a um lobo, apresenta cerca de 3,7%. Por outro lado, terriers, cães de aponte e cães farejadores exibiram, em média, os menores níveis de herança genética de lobos.
Cão Anglo-Francês Tricolor — Foto: Wikimedia Commons No geral, os pesquisadores observaram que a ancestralidade lupina tende a ser maior em cães de grande porte e em raças criadas para funções específicas, como cães de trenó do Ártico, raças “párias” e cães de caça.
Mas há exceções. O chihuahua, apesar do tamanho diminuto, tem cerca de 0,2% de ancestralidade lupina. Já grandes cães de guarda, como mastim napolitano, bullmastiff e São Bernardo, não apresentaram qualquer traço detectável de origem lupina.
“Isso faz todo o sentido para qualquer pessoa que tenha um chihuahua”, disse Lin. “E o que descobrimos é que isso é normal — a maioria dos cães tem um instinto um pouco lupino.”
O Tamaskan, cachorro desenvolvido a partir da seleção de huskies, malamutes e outras raças para se assemelhar a um lobo — Foto: Wikimedia Commons Personalidade pra cachorro
Em seguida, os cientistas analisaram a personalidade dos cachorros a partir de descrições usadas por clubes de criadores. Eles descobriram que aqueles com maior ancestralidade de lobos eram comumente descritos como "desconfiados de estranhos", bem como "independentes", "dignos", "alertas", "leais", "reservados" e "territoriais". Enquanto isso, os com menor ancestralidade lupina eram adjetivados com termos como "amigável", seguido por "ansioso para agradar", "fácil de treinar", "corajoso", "vivaz" e "afetuoso".
Os autores, porém, fazem uma ressalva: essas descrições podem refletir estereótipos sobre as raças, e não está claro se os genes herdados dos lobos influenciam diretamente tais traços.
Ainda assim, o estudo revelou adaptações importantes herdadas dos lobos. Entre elas, a distribuição de um gene semelhante ao do lobo tibetano que ajuda os mastins tibetanos a tolerarem condições de baixo oxigênio no Planalto Tibetano e no Himalaia; e ainda genes receptores olfativos que auxiliam cães de aldeia a encontrarem restos de comida humana.
O coautor do estudo, Logan Kistler, destaca que os lobos tiveram um papel importante em moldar nossos amigos cachorros. “Ao longo dos anos, os cães tiveram que resolver todos os tipos de problemas evolutivos que surgem ao conviver com os humanos, seja sobreviver em grandes altitudes, procurar comida enquanto vagam livremente por uma aldeia ou proteger o rebanho, e parece que eles usam genes de lobo como parte de um conjunto de ferramentas para continuar sua história de sucesso evolutivo", conclui.

há 12 horas
1
:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fde5cd494fb04473a83fa5fd57ad4542/internal_photos/bs/2025/F/H/gMgM1XRvepv0zOLm5Ing/seal-milk-more-refined.jpg)
:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fde5cd494fb04473a83fa5fd57ad4542/internal_photos/bs/2025/j/3/VtK9XeSWSHX65wunpLuw/thanksgiving-2021.jpg)
:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fde5cd494fb04473a83fa5fd57ad4542/internal_photos/bs/2025/k/5/iQ4Q5RTVmCIAIstQQjIA/dsc03576-raymond-sauvage-ntnu-vitenskapsmuseet.jpg)





Portuguese (BR) ·