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Um novo estudo traz um alerta importante para mulheres que usam cannabis e planejam engravidar, especialmente por meio de fertilização in vitro (FIV). A pesquisa, publicada na Nature Communications, dia 09 de setembro, conduzida pela Universidade de Toronto, descobriu uma ligação entre a presença de THC (o principal composto psicoativo da cannabis) no organismo e uma maior incidência de anormalidades cromossômicas nos óvulos, o que pode reduzir significativamente as chances de uma gravidez bem-sucedida.
A embriologista Cyntia Duval e sua equipe analisaram 1.059 amostras de fluido folicular, o líquido que envolve os óvulos em desenvolvimento, de pacientes em tratamento de FIV. Dessas, 62 amostras testaram positivo para THC. Os resultados foram preocupantes: os óvulos associados a fluidos com níveis mais elevados de THC apresentaram uma probabilidade maior de possuir defeitos cromossômicos. Além disso, esses óvulos tenderam a amadurecer de forma anormalmente rápida.
"O estudo sugere que o consumo de cannabis pode afetar o resultado da fertilização in vitro", comentou o farmacologista Mark Connor, da Universidade Macquarie, que não participou da pesquisa, em entrevista à Scimex.
Impacto na qualidade dos óvulos
Em experimentos de acompanhamento com óvulos de 24 pacientes que consentiram com a pesquisa, a equipe confirmou as descobertas. Óvulos expostos a concentrações mais altas de THC apresentaram quase 10% mais erros cromossômicos e a taxa acelerada de maturação, em comparação com os do grupo de controle.
O ginecologista e obstetra Alex Polyakov, da Universidade de Melbourne, explicou a gravidade da descoberta: "Para mulheres que estão considerando ou passando por tratamento de fertilidade, esta pesquisa sugere que o uso de cannabis pode comprometer os resultados reprodutivos, não impedindo a fertilização, mas reduzindo a probabilidade de produzir embriões cromossomicamente normais".
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A euploidia, número correto de cromossomos, é um fator crítico para a implantação bem-sucedida do embrião no útero, para a evolução de uma gravidez saudável e para a prevenção de abortos espontâneos. Portanto, anormalidades nessa fase inicial podem prolongar o tempo até a concepção e aumentar as taxas de falha dos tratamentos.
Limitações e a necessidade de mais pesquisas
Os pesquisadores são cautelosos em apontar as limitações do estudo. O tamanho da amostra ainda é pequeno, o que impossibilitou controlar outros fatores que impactam a fertilidade, como a idade da paciente atualmente é o maior fator de risco para a qualidade dos óvulos.
É importante notar também que o trabalho focou na fertilização in vitro e não investigou os efeitos potenciais do consumo de cannabis na concepção natural, que segue sendo uma área que demanda mais investigação.
A abstinência como a escolha mais segura
Este estudo se soma a um corpo crescente de evidências que levantam preocupações sobre o uso da cannabis na reprodução. Pesquisas anteriores já haviam relacionado o uso da substância a problemas com a qualidade do esperma.
Diante das incertezas, a recomendação médica atual é de cautela. "No momento, nenhuma quantidade de maconha [cannabis] usada durante a concepção ou gravidez é bem tolerada, e as evidências limitadas disponíveis sugerem que a escolha mais segura é a abstinência", recomenda a obstetra Kimberly Ryan e colegas da Oregon Health & Science University.
Apesar dos benefícios da cannabis no alívio da dor e de questões de saúde mental, seu uso durante a tentativa de engravidar, na gestação e na amamentação parece ser mais um item a ser adicionado à lista de substâncias que todos os pais em potencial devem evitar.