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A bordo da estação espacial Tiangong, a cerca de 400 km da Terra, astronautas chineses fizeram um feito inédito: o primeiro churrasco fora da órbita. O cardápio, simples e simbólico, incluiu asas de frango grelhadas e bife com pimenta-do-reino, ambos preparados em um forno de ar quente desenvolvido especialmente para funcionar em microgravidade.
O evento marcou um divisor de águas na história da alimentação fora da Terra. Até então, nenhuma missão havia conseguido cozinhar de verdade, apenas aquecer refeições prontas. Na Tiangong, porém, os astronautas puderam sentir o cheiro, a textura e o sabor de uma comida recém-preparada, com direito a crosta dourada e aroma de churrasco flutuando pela cabine.
Evolução da alimentação no espaço
A primeira refeição no espaço, em 1961, foi também a menos apetitosa: o cosmonauta Yuri Gagarin ingeriu um tubo de pasta de carne e fígado, acompanhado por calda de chocolate.
Pouco depois, o americano John Glenn provou que comer em microgravidade era possível, mas ainda desagradável. Segundo a Nasa, as primeiras gerações de astronautas do programa Mercury sobreviveram com cubos de comida liofilizada e pastas em tubos de alumínio. Os alimentos produziam migalhas, eram difíceis de reidratar e tinham sabor duvidoso.
Seis astronautas aproveitaram o banquete cozido no espaço — Foto: Administração Espacial Nacional da China Durante o programa Apollo, surgiram melhorias: foi introduzida água quente para reidratar as refeições e colheres para comer diretamente das embalagens. Sanduíches foram testados, mas abandonados, já que o pão produzia migalhas perigosas que podiam danificar instrumentos ou causar acidentes respiratórios.
Algumas décadas depois, missões na Skylab e no Ônibus Espacial levaram congeladores e pequenas cozinhas ao espaço. Hoje, na Estação Espacial Internacional (ISS), as refeições são variadas, mas ainda limitadas. Elas incluem frutas frescas, pacotes selados e alimentos reidratáveis. Nenhum astronauta, contudo, havia assado, grelhado ou frito algo – isso é, até a chegada do forno espacial à Tiangong.
O forno de ar quente chinês, entregue pela espaçonave Shenzhou-21, que chegou à Tiangong na última semana, foi projetado para operar com segurança e precisão em microgravidade. Ele mantém os alimentos firmemente presos, impedindo que flutuem, e utiliza tecnologia de filtragem multicamadas para eliminar fumaça e odores.
“Utilizamos catálise de alta temperatura e tecnologias de filtragem multicamadas para possibilitar o cozimento sem fumaça”, explica Xian Yong, pesquisador do Centro de Pesquisa e Treinamento de Astronautas da China, à emissora estatal CCTV. “Dadas as condições especiais em órbita, garantimos que o forno de ar quente seja completamente confiável e seguro. Todas as partes do forno que os astronautas podem tocar permanecem frias para evitar queimaduras.”
Sua temperatura máxima atinge 190°C, e o cozimento é mais lento do que na Terra. Para se ter uma ideia de quanto, as asas de frango demoraram 28 minutos para ficarem crocantes, por exemplo. Ainda assim, o resultado impressionou.
Seis astronautas ao todo, compartilharam o banquete. Em um vídeo divulgado, Wu Fei, o mais jovem entre eles, com 32 anos, exibe as asas douradas e comenta: “Tem um cheiro, uma aparência e um sabor incríveis”. Veja:
A refeição coincidiu com um momento simbólico, que foi a passagem de comando da estação Tiangong. Embora a tripulação da missão Shenzhou-20 tenha que ficar mais um tempo na estação espacial por problemas técnicos envolvendo a sua nave, o “bastão” já foi passado para a Shenzhou-21.
O churrasco marcou também o início de uma nova rotina alimentar. Segundo o jornal South China Morning Post, a Tiangong agora oferece um cardápio com 190 tipos de alimentos, incluindo vegetais frescos, bolos e nozes. Além disso, os astronautas cultivam sete espécies de plantas em órbita (entre elas, alface, tomate-cereja e batata-doce), totalizando 4,5 kg de colheita até agora.
O desafio do fogo no espaço
Acender fogo em microgravidade é uma façanha científica. Em órbita, as chamas se comportam de modo diferente, formando esferas em vez de labaredas. Sem gravidade, não há convecção nem fluxo ascendente de ar, o que torna o controle da combustão e a detecção de fumaça muito mais difíceis.
“Em uma espaçonave, não há fluxo ascendente, e a fumaça segue o movimento do ar imposto pelo sistema de ventilação”, explica Guillaume Legros, do Instituto de Combustão, Aerotérmica e Meio Ambiente da França, à Agência Espacial Europeia (ESA). Por isso, o forno da Tiangong representa um salto de engenharia e segurança, já que é capaz de reproduzir o cozimento por ar quente, mas sem as chamas abertas que poderiam ameaçar o ambiente confinado da estação.
O forno chinês é considerado o primeiro do mundo desse tipo, e sua utilidade vai muito além da satisfação gustativa. Pesquisadores chineses destacam que cozinhar a própria comida ajuda os astronautas a reduzir o estresse e o isolamento psicológico das longas estadias em órbita.

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