Como esta mulher viveu até os 117 anos? Novo estudo dá pistas

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A espanhola María Branyas Morera sustentou o título de pessoa mais velha do mundo entre 17 de janeiro de 2023 e 19 de agosto de 2024. Com 117 anos e 168 dias, ela deixou a vida para entrar na história, como uma das 8 mulheres que viveram mais tempo. E, após a sua morte, cientistas passaram a questionar: o que fez com que Morera vivesse tanto tempo?

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Centenários e, sobretudo, supercentenários – como Morera – instigam cientistas há tempos. Para desvendar os mistérios por trás da longevidade, pesquisadores de diferentes universidades ao redor do mundo trabalharam para produzir um estudo publicado nesta quarta-feira (24) na revista científica Cell Reports Medicine sobre o assunto. Entre os pesquisadores, está a brasileira Mayana Zatz, geneticista e professora do Instituto de Biociências (IB) da Universidade de São Paulo (USP).

Não somente os fatores genéticos de Morera foram investigados, mas também o seu estilo de vida. Na época, ela morava na pequena cidade de Olot, na região da Catalunha, na Espanha, onde gostava de ler livros, brincar com cachorros e passar tempo com amigos e familiares, incluindo suas duas filhas – ambas já na casa dos 90 anos.

Ao The New York Times, Manel Esteller, do Instituto de Pesquisa de Leucemia Josep Carreras, declarou que o trabalho trouxe revelações importantes. Entre as principais, ele afirmou ter sido a descoberta de que as mudanças moleculares que ocorrem nas células do nosso corpo se diferenciam entre aquelas decorrentes do envelhecimento e aquelas que ocorrem pela saúde precária.

Coração, cérebro e… Intestino

Desde os 116 anos, Morera foi acompanhada pela equipe de pesquisadores. Na época, amostras de seu sangue, saliva e fezes foram coletadas para serem analisadas. Posteriormente, a coleta também foi feita com as suas duas filhas para comparar o material genético da família com os perfis genéticos de mulheres de várias idades que viviam na mesma região.

 Manel Esteller Manel Esteller é um dos cientistas que participou do estudo que ajudou os pesquisadores a entenderem a longevidade de Matia Branyas Morera — Foto: Manel Esteller

“Ela tinha um genoma excepcional, enriquecido com variantes em genes que estão associados à maior expectativa de vida em outras espécies, como cães, vermes e moscas. Ao mesmo tempo, ela não apresentava variantes genéticas associadas ao risco de patologias como câncer, Alzheimer e distúrbios metabólicos”, analisou Esteller.

Para além dos louros à genética, Morera também se preocupava com a sua saúde e bem-estar. Sem álcool ou cigarros, ela seguia uma dieta rica em vegetais, frutas, legumes e azeite de oliva. Mas, para os estudiosos, um dos principais destaques da sua alimentação era o consumo diário de três porções de iogurte natural que a auxiliou na manutenção do equilíbrio dos níveis da sua microbiota intestinal.

O funcionamento do intestino dela era tão excepcional para a idade que apresentava características próximas a da microbiota de um indivíduo mais jovem. Os níveis de bactérias – benéficas – no intestino de Morera eram bem elevados para a sua idade, e acredita-se que a atuação desses organismos tenha múltiplas atuações para o antienvelhecimento.

Em comunicado à revista New Scientist, Esteller observou que “isso mostra que talvez uma intervenção alimentar possa estar associada não apenas à prevenção da obesidade e outras patologias, mas também ao prolongamento da vida, atuando por meio do microbioma intestinal”.

 Revista FAPESP Os cientistas descobriram que os telômeros de Morera e suas filhas eram excepcionalmente curtos e a revelação levou os pesquisadores a repensarem o nível de associação dos telômeros com o avanço do envelhecimento — Foto: Revista FAPESP

Idade biológica X Idade cronológica

A idade biológica – aquela que o organismo “aparenta” ter clinicamente – e a idade cronológica – aquela contada ano após ano desde o nosso nascimento – era cerca de 23 anos menor do que a real. Ou seja, apesar de ter 117 anos, o corpo de Morera apresentava sinais e níveis de saúde semelhantes aos de alguém com 94 anos.

Esta projeção foi feita pelos cientistas a partir de um “relógio epigenético”. Trata-se de uma ferramenta biológica que, para medir a idade biológica de um organismo, baseia-se em mudanças químicas específicas que ocorrem no DNA em vida.

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