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A brasileira Jhordana Dias, de 26 anos, relatou ao g1 detalhes da tentativa de estupro que sofreu em um trem da região metropolitana de Paris. A jovem contou como conseguiu escapar do agressor e cobrou justiça pelo caso. Veja o depoimento completo e a repercussão internacional.
A brasileira Jhordana Dias, que denunciou uma tentativa de estupro em um trem da região metropolitana de Paris, falou pela primeira vez sobre o episódio. Ao g1, a jovem de 26 anos contou que se mudou recentemente para a França em busca de um recomeço, mas acabou vivendo uma experiência violenta e traumática.
“Por estar em um país de primeiro mundo, eu nunca imaginei que poderia acontecer isso aqui. Por mais que tenha violência em qualquer lugar […] Eu jamais esperava uma agressão da forma que foi, assim, cruel, porque eu fui agredida sem ao menos a pessoa falar uma palavra pra mim”, relatou.
Segundo ela, o ataque aconteceu na manhã do dia 16 de outubro, dentro de um vagão da linha C da rede de trens RER, entre as estações Choisy-le-Roi e Villeneuve-le-Roi. Jhordana estava sozinha voltando para casa quando foi surpreendida pelo agressor.
Ela contou que o homem já havia descido do trem em uma parada anterior, mas retornou ao perceber que o vagão estava vazio. “Quando eu vi ele entrando, do jeito que ele me olhou antes, eu senti que eu ia ser atacada”, afirmou. O suspeito se sentou ao seu lado e, ao tentar escapar, ela foi impedida.
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“Ele puxou minhas calças. Eu lutando contra ele a todo momento, e ele me colocando sentada no banco. Ele começou a me beijar. O beijo não foi correspondido, então ele mordeu minha boca […] Arranhou o meu rosto, deu um tapa no meu ouvido e eu fiquei perdida”, contou Jhordana. O agressor também tentou estrangulá-la, segundo relato do irmão da vítima, Cícero Gomes à BBC News Brasil, e chegou a tocar suas partes íntimas. Jhordana gritou por socorro enquanto tentava se defender.
Brasileira que denunciou tentativa de estupro em metrô de Paris desabafa: ‘Nunca imaginei que pudesse acontecer isso aqui’ https://t.co/ctjZjU8iW7 #g1 pic.twitter.com/y8EimIgS97
— g1 (@g1) October 23, 2025
Foi nesse momento que Marguerite, uma passageira que estava em outro vagão, ouviu os gritos e correu para ajudar. “Eu via a boca dele, as mãos dele tocando nela. Era preciso fazer alguma coisa. Para mim, é inconcebível não agir. Ou você o enfrenta, ou se arrepende pelo resto da vida”, declarou a mulher ao jornal francês Le Parisien. Marguerite enfrentou o agressor e conseguiu filmar seu rosto. “Ele viu que eu não tinha medo”, disse.
Jhordana aproveitou a distração do homem e conseguiu empurrá-lo, saindo correndo do vagão. A primeira reação dela foi ligar para o irmão, em chamada de vídeo. “Quando ela aparece, a cara tava toda ensanguentada, porque ele mordeu na boca dela e cortou. Eu vi e falei assim: ‘O que aconteceu?’ E ela disse: ‘Tem alguém tentando me pegar. Ele tentou me pegar. Ele está me agredindo e tudo’”, contou Cícero.
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No vídeo feito por Marguerite, o suspeito aparece descendo do trem após ser confrontado. Ela pede que ele se afaste e ele, antes de sair, faz sinal para que pare de filmá-lo. Ao chegar na estação, a passageira chamou a polícia e os seguranças do trem, mas o homem já havia fugido.
Assista:
Uma brasileira afirma ter sido vítima de uma tentativa de estupro em um trem no subúrbio de Paris, na última quinta-feira (16). A ocorrência, que teve repercussão na imprensa francesa, foi parcialmente registrada em um vídeo que circulou nas redes sociais.
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— Folha de S.Paulo (@folha) October 20, 2025
Descaso da polícia
Jhordana e o irmão foram até a delegacia para registrar um boletim de ocorrência. “Uma primeira mulher chamou a Jhordana e aí eu levantei. Ela falou que eu não entraria na sala e eu disse: ‘Olha, ela não fala francês’. Aí nós começamos a discutir um pouco e eu falei ’é um crime de agressão sexual, tem uma seriedade muito grande nisso’. Aí ela respondeu: ‘Então eu não posso me ocupar de vocês. Vocês vão ter que aguardar’”, relembrou Cícero. Eles passaram o dia inteiro na delegacia e só foram liberados por volta das 17h.
Segundo a família, a polícia recolheu amostras de DNA no rosto de Jhordana, fotografou os ferimentos e apreendeu o casaco que ela usava no momento do ataque. O exame de corpo de delito foi marcado para o dia 29 de outubro, mas como os hematomas já estariam cicatrizados até lá, a família decidiu procurar um médico particular. “Ele fez o laudo e constatou todas as agressões. Meu pescoço estava duro, tinha uma mordida, arranhão no rosto. Meu rosto ficou roxo”, descreveu a vítima.
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A justificativa da polícia para o adiamento do exame, segundo Cícero, foi a falta de um tradutor oficial. “Conversando com o policial, eu senti que aquilo ia ficar para debaixo do pano. Então eu já moro aqui tem mais tempo e vejo que tem muitas coisas que são abafadas, que eles não fazem muita questão de correr atrás, de investigar e mesmo de resolver”, desabafou.
Jornal francês divulgou foto do rosto de Jhordana (Foto: Divulgação/Le Parisien)A repercussão do caso foi amplificada por uma reportagem do jornal Le Parisien, que publicou imagens de Jhordana chorando e pedindo ajuda, além da gravação do agressor deixando o vagão. Ela disse estar em choque com tudo que viveu. “A dor que eu estou sentindo… Eu estou até meio perdida. Às vezes as pessoas conversam comigo, eu não consigo responder ou fico meio aérea. O que eu mais quero agora é justiça”, afirmou.
Mesmo sem falar francês fluentemente, a jovem espera que sua voz ajude outras vítimas: “Hoje em dia, ser mulher é difícil. Em lugar nenhum do mundo você está segura. É normal você ser ofendida por olhares. Não que isso seja normal, mas está se tornando normal”.
O grupo feminista francês Osez Le Féminisme se manifestou sobre o caso e declarou que situações como a de Jhordana são mais comuns do que se imagina no país. Em nota, a organização declarou: “É inaceitável que a segurança das mulheres dependa do acaso ou da coragem individual. Elas devem ser protegidas por políticas públicas concretas e eficazes”.
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Jhordana agradeceu às mensagens de apoio que tem recebido e à cobertura da imprensa na França e no Brasil. “Já tem oito dias que eu sofri a agressão, as marcas sumiram, mas a marca da alma, ela nunca vai sumir. É um trauma que eu vou carregar o resto da vida”, finalizou.
Brasileiro detalha tentativa de est*pr* sofrida pela irmã, em Paris pic.twitter.com/IJmfIugQQo
— WWLBD ✌🏻 (@whatwouldlbdo) October 20, 2025
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