Brasileira abusada por Jeffrey Epstein aos 14 anos descreve 1º encontro e regra chocante, e diz como se livrou do bilionário; assista Foto: Reprodução/TV Globo; Getty

há 1 semana 5
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Marina Lacerda, que relatou ter sido uma das vítimas de Jeffrey Epstein, se abriu sobre os abusos que sofreu do bilionário. Em entrevista ao “Fantástico”, exibida na noite deste domingo (28), a brasileira, de 37 anos, disse que tinha apenas 14 anos quando começou a ser violentada na mansão dele, em Nova York. Ela descreveu o primeiro encontro e revelou que só conseguiu sair da rede de pedofilia e tráfico humano após três anos.

Natural de Belo Horizonte, Marina se mudou para os Estados Unidos ainda criança, em 1996, com a mãe e outros familiares. Os abusos começaram cedo, ainda na infância, pelo próprio padrasto. Após Lacerda denunciá-lo, ele foi preso. Dois anos depois, o homem obteve liberdade condicional e a brasileira decidiu sair de casa. Foi nesta época que Marina conheceu Epstein.

Conheci uma amiga, ela morava a sete quadras de onde eu morava. Eu ia pra casa dela, ela morava sozinha. Ela falou pra mim: ‘Eu tenho um ‘bico’ pra você, super-relax, de boa. Tenho um cara super-rico e ele gosta que meninas novas façam massagem dele’. Eu falei: ‘Só massagem?’. E ela: ‘Só massagem’“, relembrou.

Marina disse que decidiu ir à mansão do bilionário, um imóvel de sete andares avaliado em US$ 88 milhões, cerca de R$ 480 milhões, a poucos metros do Central Park. “A gente foi para Manhattan, chegamos na porta, eu olhei aquela porta enorme e falei: ‘Uau, o que é isso?’. Eu estava esperando uma pessoa rica, mas não extremamente rica desse jeito“, contou.

Fantástico exibiu imagens do quarto de massagem de Epstein. (Foto: Reprodução/TV Globo)

Na sequência, ela descreveu o primeiro encontro com o bilionário. “A empregada dele levou a gente lá em cima, ele tinha um quarto de massagem, acho que era no terceiro andar. Um quarto escuro, que não tem janela, não tem nada! Só tem uma cama, uma prateleira cheia de cremes supercaros“, detalhou.

Eu sou louca com creme e perfume até hoje. Eu olhava para aquilo e pensava: ‘Eu quero um creme daqui’. Ele chegou e falou: ‘Oi, eu sou o Jeffrey’, e começou a conversar comigo. ‘Quantos anos você tem’, ‘de onde você é’… começou a perguntar da minha vida, e eu comecei a responder“, contou.

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A brasileira garantiu que não sabia quem era Epstein e que, ao ver a mansão, deduziu tratar-se de alguém importante. Segundo ela, na sala de massagem, o bilionário disse para a amiga dela “ficar confortável”. A amiga, então, tirou a blusa e ficou só de sutiã.

Aí ela falou: ‘Marina, tira a blusa’. Eu fiquei pressionada, eu falei ‘meu Deus, o que eu faço nessa situação?’ Estava até com vergonha de falar ‘não’, não sabia como sair daquela situação. Uma pessoa que parecia ser superpoderosa. Tirei a blusa, fiz uma massagem e pronto, acabou. Ele deu dinheiro para ela, fui embora, pegamos o táxi“, afirmou.

Ela contou que a amiga, na época, minimizou o fato e disse que “não era nada”. Um tempo depois, Epstein teria ligado para a amiga e pedido que elas voltassem. “Naquele tempo, eu pensei: ‘Ele não está me tocando, ele não fez nada de errado, dei uma massagem nele’. Mas as coisas começaram a piorar, e evoluiu para outras coisas. Ele via de 5 a 10 meninas por dia“, revelou.

Epstein NetflixJeffrey Epstein abusou de Marina Lacerda durante três anos. (Foto: Divulgação/Netflix)

Marina desabafou sobre os abusos e explicou a percepção que tinha sobre a vida sexual. “Quando você já é abusada sexualmente, acho que, naquele tempo, eu já tinha perdido a sensibilidade sobre o que era certo ou errado em termos de sexo ou abuso. Quando ele estava em Nova York, ele me via umas duas, três vezes por semana. Eu nunca vi o Jeffrey à noite, sempre era de tarde ou de manhã. Eu não sei como eu aceitei isso, mas aceitei“, refletiu.

Para manter sua rede, o empresário teria instituído uma regra de que as adolescentes precisavam apresentar-lhe uma amiga. Ela falou que passou três anos se encontrando com Epstein, até ele tomar uma decisão. “Chegou um tempo que ele perguntou: ‘Você não tem amiga? Por que você não traz uma amiga sua?’. Eu falei: ‘Ah, Jeffrey, eu tenho vergonha de trazer alguém aqui, de contar para alguém’. Ele falou: ‘Bom, se você não conseguir trazer uma amiga sua, eu não sei se isso aqui vai continuar’“, disse o bilionário.

A Polícia da Flórida foi a responsável por desvendar a rede de pedofilia de Epstein. Segundo as autoridades, cada adolescente tinha que apresentar uma amiga. “Eu tinha 17, 18 anos. Ele falou que eu estava ficando velha e não tinha mais interesse em me ver“, comentou.

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Investigações do FBI

Pouco depois, Marina foi procurada pelo FBI. Em 2008, o bilionário conseguiu um acordo judicial que lhe garantiu apenas 13 meses de prisão na Flórida. Em 2018, procuradores em Nova York retomaram as investigações e a ouviram novamente. Ela foi identificada como “vítima menor número um” e forneceu informações decisivas para a prisão de Epstein, em 2019. Ele, contudo, foi encontrado morto na cela após alguns meses.

A parceira dele, Ghislaine Maxwell, foi julgada e condenada a 20 anos de prisão por abuso de menores. Parte da documentação do caso ainda segue sob sigilo da Justiça norte-americana. Por conta disso, a brasileira veio a público no início de setembro, durante uma coletiva de imprensa, ao lado de outras vítimas de Epstein, para pedir que o Congresso estadunidense aprove uma lei que obrigue a divulgação de todos os documentos da investigação.

Marina explicou que só decidiu contar a sua história para encorajar outras mulheres. “Não tenha vergonha, não tenha medo. Esqueça o que os outros pensam, porque se você pensar nisso, você nunca vai falar. Eu acho que a paz é a coisa mais importante que existe na vida“, finalizou.

Confira a reportagem:

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