Brasil pode se tornar hub global de data center, afirmam líderes do setor

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O Brasil entrou no radar como possível polo estratégico da nova geopolítica global de dados, impulsionado por fatores como a alta disponibilidade de energia renovável, a capilaridade da infraestrutura digital e o crescimento da demanda por aplicações em inteligência artificial. Durante painel realizado nesta quarta-feira (1º) na Futurecom 2025, executivos do setor de data centers destacaram que o país reúne condições para liderar esse movimento — desde que supere gargalos ligados à regulação, conectividade, tributação e logística energética.

Renan Lima, presidente da Associação Brasileira de Data Centers (ABDC), mediou o painel e afirmou que o edge computing continua em expansão, enquanto 60% da nuvem brasileira ainda está localizada fora do país. Segundo ele, “o importante é o potencial do Brasil para se tornar um hub” num mercado que caminha para a hiperconectividade com inteligência artificial. “A IA pega esse data lake e traz uma aplicação muito maior. O grande gargalo dela é a energia elétrica, e esse mercado exige eficiência energética”, pontuou.

Para Lima, o país já possui eficiência significativa e deve aproveitar a estrutura existente para exportar dados com base em energia renovável. “Temos energia, mas o custo dos ativos era muito grande. A Política Nacional de Datacenters (ReData) vai mudar isso. Quando há uma estabilidade fiscal, como o ReData, ajuda a exportar dados utilizando nossos recursos”, disse.

André Busnardo, diretor da Tecto Data Centers, lembrou que a empresa surgiu como um spin-off de infraestrutura com histórico anterior à fibra terrestre, operando inicialmente com cabos submarinos. “O que deu certo em Fortaleza foi a criação de um ecossistema. Nascemos como edge, mas atendemos os mesmos clientes que agora estão olhando para os desenvolvimentos de IA.”

A Tecto tem um projeto em Santana de Parnaíba, SP, com 200 megawatts de energia e novos empreendimentos à vista. Busnardo ressaltou que o ReData “elimina um primeiro bloqueio” e que a combinação entre entrega de energia, custo e conexão de cabos submarinos será decisiva. “Dois desafios precisam ser vencidos: estabilidade regulatória na proteção de dados e o gargalo na transmissão e distribuição de energia”, afirmou. “O mundo olha para o Brasil por causa da disponibilidade de energia renovável.”

IA como vetor de demanda e incentivo à interiorização

Para Victor Arnaud, presidente da Equinix no Brasil, o mercado local é o maior da América Latina e já vem dobrando de tamanho desde a adoção em massa da nuvem, em 2010. “Hoje o Brasil é o maior mercado da América Latina, de longe. Um mercado com mais de 200 milhões de pessoas. Se o ReData não acontecesse, o Brasil continuaria sendo o polo da AL, mas com o ReData pode se tornar um dos polos globais.”

Arnaud reforçou a necessidade de que a regulação acompanhe o ritmo da inovação. “A IA é mais uma onda de transformação digital que converge com outras que já aconteceram. A regulação de IA é muito complexa e precisa ser feita”, defendeu. Ele também destacou que o incentivo à regionalização — com data centers além dos grandes centros — é essencial para capilaridade e soberania digital.

Representando a Elea Data Centers, Crislaine Corradine, diretora de suporte aos negócios da companhia, destacou que a empresa opera nove unidades no Brasil e vem migrando do edge para o atendimento de alta densidade (hyperscale) em São Paulo e Rio de Janeiro, principalmente. “O ReData é um acelerador do processo de expansão do volume de dados no país”, afirmou.

Com projeto no Rio de Janeiro que começa em 1,5 gigawatts e pode chegar a 3,2 gigawatts, Corradine alertou para a burocracia que ainda impacta o setor. “Em outros lugares do mundo, a média de liberação de outorgas é de três meses. Aqui, é mais de 12 meses”, afirmou. Segundo ela, a expectativa é de redução de 40% da carga tributária com o ReData e extensão de benefícios por cinco anos.

Ela também defendeu incentivos diretos à infraestrutura. “Quase 100% dos nossos equipamentos são importados. Sentimos o efeito direto da carga tributária. A simplificação é um ponto crítico.”

Estratégia fiscal, meio ambiente e financiamento

Matheus Rodrigues, sócio-líder de tecnologia, mídia e telecom da Deloitte, ressaltou que o ReData “asfalta a avenida”, mas que ainda há desafios em regulação, suprimentos e financiamento competitivo. “Não é de hoje para amanhã que vamos passar para 10 gigawatts. Isso vai acontecer, mas precisa ter a estratégia certa”, afirmou.

Rodrigues defendeu a combinação da medida provisória com incentivos municipais e destacou o papel da sustentabilidade. “Saindo da área tributária e indo para meio ambiente, esse é um ponto de preocupação. Mas o Brasil se beneficia pela sua localização, com água em abundância e energia renovável.”

Para ele, o debate sobre financiamento também precisa ganhar protagonismo: “O BNDES, sozinho, não será suficiente. É preciso discutir que outras combinações podem viabilizar um modelo de financiamento mais atrativo”, concluiu.

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