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A Academia Brasileira de Cinema anunciou na última segunda-feira (15) a escolha do filme O Agente Secreto como representante do Brasil para pleitear uma vaga no Oscar 2026. O longa, que conta com Wagner Moura no elenco, foi escolhido em uma lista de filmes que contava também com as produções Manas, Baby, Oeste Outra Vez e O Último Azul.
Só que a escolha mobilizou fãs de cinema brasileiros nas redes sociais, que defenderam a tese de que Manas, que estreou em maio de 2025, deveria ter sido o escolhido. Tudo por conta de seu importante pano de fundo social, que vem despertando a atenção da comunidade internacional.
Na produção brasileira, Marcielli (Jamilli Correa) com apenas 13 anos de idade vive e presencia o ciclo de abuso sexual na Ilha de Marajó, no Pará. Durante várias gerações, meninas foram abusadas por parentes dentro de casa e exploradas sexualmente na balsa — local que frequentam para vender açaí e camarão. A violência acaba sendo normalizada na região, diante do desamparo da justiça.
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A onda de divulgação mais recente do filme contou, inclusive, com apoio de atores de destaque no meio internacional. No último sábado (13), Sean Penn, que se tornou produtor de Manas, e Julia Roberts, promoveram um evento para a exibição do longa em Ross House, Los Angeles. O local é conhecido por promover sessões privadas para os membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, ou seja, para os votantes do Oscar.
O longa tem previsão de estreia nos cinemas estadunidenses nas próximas semanas, a distribuidora KimStim pretende lançar Manas em cerca de 20 cidades, incluindo Nova York. Antes da exibição do filme brasileiro, Julia Roberts falou com o público. “Estou tão empolgada com o que está prestes a acontecer com todos nesta sala, porque aconteceu comigo e vai mudar vocês. Este filme faz você acreditar na vida de uma forma muito triste, bela e mágica”, disse.
Veja abaixo algumas curiosidades sobre o filme (e seu sucesso a nível internacional):
1. Desde 2024, durante o Festival de Veneza, Manas já conquistou 28 prêmios, inclusive foi vencedor da categoria "Directors Award" no Giornate degli Autori — seção independente do festival de cinema italiano, que dá destaque a obras independentes de cineastas novos. Durante o anúncio sobre o filme vencedor, o júri disse: “Manas é uma janela para um mundo criado com tantos detalhes que convida o público a uma jornada imersiva e emocional a ser transformada. Manas conquistou nossos corações ao abordar com cuidado e carinho o tema extremamente sensível e difícil do abuso, tanto em contextos domésticos quanto em contextos mais sistemáticos. Embora o cenário da ilha de Marajó ainda estivesse por ser descoberto, o diretor retratou algo tão universal, com o qual cada um de nós pôde se identificar profundamente.”
2. A história ficcional é baseada em acontecimentos reais. O projeto para produzir Manas foi iniciado em 2014, a diretora Marianna Brennand, pesquisou por mais de 10 anos a vida e a violência que cercava meninas da Ilha de Marajó. Produtores e roteiristas acompanharam o processo de pesquisa, além deles, Brennand contou com a colaboração de psicólogos, conselhos tutelares, psicanalistas e com dois ativistas de direitos humanos que atuam na Amazônia, sendo eles, Marie Henriqueta Ferreira Cavalcante e o delegado Rodrigo Amorim. A personagem Aretha, interpretada por Dira Paes, foi inspirada na atuação dos ativistas.
3. A protagonista do filme, Marcielli, foi interpretada pela atriz Jamilli Correa — sua primeira atuação. No entanto, as outras crianças que aparecem na obra nunca atuaram. O elenco infantil é composto por crianças que moravam no entorno da região ribeirinha. Os pais foram avisados sobre o conteúdo do filme, no entanto, para preservar o psicológico e o emocional das crianças, elas não leram o roteiro. A diretora lia os diálogos com o elenco e depois a filmagem acontecia.
4. A diretora de Manas optou por não fazer um documentário sobre os casos de violência sexual para que as vítimas não revivessem os seus traumas ao contar suas histórias. Para Brennand, isso seria uma forma de expô-las a mais um tipo de violência. Por isso, para fazer essa denúncia de forma profunda, a diretora optou por produzir uma ficção.
5. Apesar de retratar a vida de meninas marajoaras, por uma questão de segurança, as filmagens foram realizadas na Ilha Grande e na Ilha Murucutum — regiões próximas a Belém.
Sem o uso de violência gráfica, Brennand consegue transmitir a realidade de meninas que estão presas diante do abuso e da exploração sexual — não estão seguras nas balsas e em suas casas. Com a educação precária e o isolamento geográfico, não existem muitas perspectivas de crescimento, além de estarem distantes do alcance das leis que regem o país.
Em junho de 2025, a Comissão dos Direitos Humanos iniciou um processo de investigação sobre denúncias de tráfico, abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes na Ilha do Marajó. A ação, liderada pela senadora Damares Alves, foi nomeada como “Missão Marajó”. A iniciativa aconteceu após a menina Elisa Rodrigues, de apenas 2 anos, desaparecer em outubro de 2023, no município de Anajás.
Em 2024, a Polícia Civil prendeu um suspeito pelo desaparecimento de Elisa, o homem também era investigado pelo crime de estupro de vulnerável. A senadora tinha o intuito de encontrar a criança desaparecida, mas a “Missão Marajó” acabou no dia 28 de junho e sem respostas sobre o tráfico infantil.