"Seremos arruinados": população do Irã teme consequências do restabelecimento das sanções da ONU

há 1 semana 5
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Como previsto, as sanções da ONU contra o Irã foram restabelecidas na noite de sábado (27), após a expiração do prazo do mecanismo ativado pela França, Alemanha e Reino Unido, para repreender Teerã pelo descumprimento dos compromissos em relação a seu programa nuclear. Com a retomada das medidas, o valor do rial, a moeda iraniana, registrou uma queda histórica frente ao dólar, preocupando a população.

Como previsto, as sanções da ONU contra o Irã foram restabelecidas na noite de sábado (27), após a expiração do prazo do mecanismo ativado pela França, Alemanha e Reino Unido, para repreender Teerã pelo descumprimento dos compromissos em relação a seu programa nuclear. Com a retomada das medidas, o valor do rial, a moeda iraniana, registrou uma queda histórica frente ao dólar, preocupando a população.

Iranianas passam diante de um míssil e de um outdoor exibindo retratos do líder supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei (centro), e de militares mortos em um ataque israelense em junho. Teerã, 25 de setembro de 2025.

Iranianas passam diante de um míssil e de um outdoor exibindo retratos do líder supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei (centro), e de militares mortos em um ataque israelense em junho. Teerã, 25 de setembro de 2025.

Foto: AP - Vahid Salemi / RFI

As sanções incluem um embargo sobre armas e o congelamento de ativos e atividades bancárias de empresas e indivíduos ligados aos programas nuclear e balístico do Irã. Com a volta das medidas, a moeda nacional degringolou. Neste domingo, US$ 1 estava valendo 1,1 milhão de riais em comparação com cerca de 900 mil no início de agosto

O Ministério das Relações Exteriores iraniano declarou que a reativação das sanções é "ilegal" e "injustificável". O regime prometeu defender seus direitos e interesses nacionais, afirmando que qualquer ação que vise prejudicar os interesses e direitos do país receberá uma resposta apropriada. 

Em Teerã, a população teme o agravamento da situação econômica do país. A desvalorização da moeda já causa um aumento no custo das importações e alimenta a hiperinflação já endêmica, pesando no poder de compra dos iranianos.

"Seremos arruinados. As pessoas podem não conseguir viver como vivem hoje", afirma Nasim Company, pesquisadora de 56 anos. 

"Mesmo antes da alta do dólar, os preços já estavam subindo. Da carne aos táxis, as condições de vida já eram difíceis", destaca Helia, designer gráfica de 33 anos. Já a estudante Mehrshad, de 19, teme que o retorno das sanções isole ainda mais o Irã no cenário político.

Bomba atômica

O programa nuclear iraniano prejudica há muito tempo as relações de Teerã com as potências ocidentais, que, juntamente com Israel, acusam a República Islâmica de buscar desenvolver armas atômicas.

Em 2015, França, Reino Unido, Alemanha, Estados Unidos, Rússia e China concluíram um acordo com o Irã prevendo a regulamentação das atividades nucleares iranianas em troca de uma suspensão gradual das sanções internacionais. No entanto, em 2018, durante seu primeiro mandato, o presidente americano, Donald Trump, retirou os Estados Unidos do compromisso, restabelecendo suas próprias sanções contra o Irã. 

Em resposta, o Irã quebrou certos compromissos, principalmente sobre o enriquecimento de urânio, limitado a 3,67% pelo acordo de 2015. 

Segundo a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o Irã é o único país sem armas nucleares a enriquecer o elemento a um nível alto (60%), próximo ao limite técnico de 90% necessário para fabricar a bomba atômica.

O regime iraniano garante que não tem essa intenção e insiste ter o direito de usar essa tecnologia para fins civis. "Não queremos armas nucleares", afirmou Masoud Pezeshkian durante seu discurso nesta semana na Assembleia Geral da ONU.

Negociações fracassaram

França, a Alemanha e o Reino Unido - grupo de países conhecido como E3 - apontam que o Irã protagonizou uma escalada nuclear nos últimos anos e não fez "gestos concretos" para explicar a natureza de seu programa nuclear. O Irã também é acusado de não atender exigências das potências ocidentais, como a retomada das negociações com os Estados Unidos, a permissão para acesso de inspetores da AIEA ao país e o respeito da segurança nos estoques de urânio enriquecido. 

Por isso, a tríade acionou no fim de agosto o "snapback", um mecanismo que abriu uma contagem regressiva de 30 dias antes de restabelecer as sanções suspensas em 2015. Após o sinal verde do Conselho de Segurança da ONU e o fracasso da tentativa da Rússia e da China na sexta-feira (26) em adiar o prazo final, as pesadas medidas voltaram a valer a 00h00 GMT (21h de sábado, no horário de Brasília). 

O presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, afirmou ontem que os Estados Unidos exigiram que o Irã entregasse "todo" o seu urânio enriquecido em troca de uma extensão de três meses da suspensão das sanções. Para ele, a imposição é "inaceitável". "Dentro de alguns meses, eles farão uma nova exigência e dirão novamente que querem restabelecer o snapback", acrescentou Pezeshkian.

Em junho, durante um conflito de 12 dias, o Exército israelense atacou diversos alvos ligados aos programas nuclear e de mísseis balísticos do Irã, uma campanha à qual os Estados Unidos se uniram, bombardeando as usinas nucleares de Fordo, Natanz e Isfahan em 22 de junho. Essa ofensiva israelense interrompeu as negociações indiretas em andamento entre o Irã e os Estados Unidos.

Israel comemora, UE pondera

Israel declarou neste domingo que o restabelecimento das sanções é "um importante passo à frente em resposta às contínuas violações do Irã". "O objetivo é claro: impedir que o Irã adquira armas nucleares", acrescentou o Ministério das Relações Exteriores de Israel.

Por outro lado, a chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Kaja Kallas, afirmou que o restabelecimento das sanções não implica no fim das negociações. Em comunicado, ela defendeu que "uma solução duradoura para a questão nuclear iraniana só pode ser alcançada por meio de negociação e diplomacia".

(RFI com AFP)

RFI A RFI é uma rádio francesa e agência de notícias que transmite para o mundo todo em francês e em outros 15 idiomas.

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