Satélite revela armadilha em forma de funil usada por povos antigos da América do Sul

há 1 semana 7
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Um enorme sistema de armadilhas em formato de funil foi encontrado no Chile com ajuda de imagens de satélite. O complexo foi construído no norte do país, próximo ao rio Camarones, por caçadores e pastores há 6 mil anos. Acredita-se que ele servia para a captura de animais como as vicunhas (espécie "prima" das lhamas). Um estudo sobre essas evidências arqueológicas foi publicado na revista científica Antiquity na última segunda-feira (13).

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O sistema era composto por 76 estruturas denominadas “chacus”, feitas de pedra.

Arqueólogos já encontraram armações semelhantes Oriente Médio, mas é a primeira vez que acharam em regiões andinas — levantando a hipótese que o sistema foi construído antes do surgimento dos incas.

A equipe encontrou evidências de assentamentos e postos avançados que provavelmente foram lar, durante muitos séculos, de forrageadores — grupos que viviam como caçadores e coletores. Como a agricultura já estava estabelecida em outras regiões, os pesquisadores achavam que as populações locais também eram agricultoras. Mas o novo achado arqueológico mostrou que alguns grupos ainda viviam da caça. A armadilha teria sido construída para encurralar vicunhas (Lama vicugna), animal parente da alpaca.

 Adrián Oyaneder Fotografia aérea de duas armadilhas de caça — Foto: Adrián Oyaneder

"Há muito tempo existe uma discrepância entre o que os registros arqueológicos e etno-históricos nos dizem sobre a vida nos Vales Ocidentais do norte do Chile durante o período colonial", afirma Adrián Oyaneder, da Universidade de Exeter, na Inglaterra, em comunicado. Em aproximadamente 2.000 a.C., arqueólogos indicam que a caça começou a decair com a incorporação do plantio de plantas e animais domesticados.

Em contrapartida, registros dos espanhóis datados nos séculos 16 a 19 utilizam o termo “uru” ou “uro” para se referir a populações forrageiras durante a colonização. Para fazer o estudo, Oyaneder analisou uma região com 4.600 quilômetros quadrados de extensão através de satélites, próximo ao Rio Camarones.

As observações foram realizadas durante 4 meses e foram concentradas nas regiões montanhosas, pouco estudadas, do norte chileno. A maioria das armadilhas foram construídas em formatos de ‘V’, como se tivessem duas antenas, além de conter muros de pedra seca com 1,5 metro de altura e, em média, 150 metros de comprimento. A região teria um afunilamento com aproximadamente 95 metros quadrados com profundidade de dois metros — algo capaz de reter qualquer animal alvo da caça. Veja mais no esquema abaixo:

 Adrián Oyaneder Ilustração de uma armadilha de caça de chacu, indicando como o povo "represavam" os animais selvagens nas covas — Foto: Adrián Oyaneder

Um dos sistemas continha 76 chacus. Todos os que foram encontrados estavam apontados para baixo e em encostas íngremes. Em alguns casos, o relevo natural do terreno era aproveitado pelos caçadores para fazer estruturas de captura. "Minha reação ao ver o primeiro chacu foi verificar duas ou até três vezes", comenta Oyaneder.

"Inicialmente, pensei que fosse uma ocorrência única, mas, à medida que prosseguia com minha pesquisa, percebi que eles estavam por toda parte nas terras altas e em uma quantidade nunca antes registrada nos Andes”, afirma. "E, então, quando comecei a ler artigos e livros sobre o assunto, particularmente de Thérèse Bouysse-Cassagne e Olivia Harris, havia referências à choquela, grupos especializados em caça de vicunhas, e palavras que se referiam especificamente aos caçadores de chacu e aos caçadores de chacu.”

Foram encontrados cerca de 800 assentamentos de diversos tipos — isolados, pequenos de até 1 metro quadrado ou grandes com até 9 estruturas.

Um software chamado Sistema de Informação Geográfica (SIG) foi usado para marcar cada assentamento em um mapa digital. Posteriormente, o pesquisador agrupou os pontos demarcados em aglomerados ligados a chacus ou outros sítios localizados num raio de até 5 quilômetros. Assim, foi possível entender como os povos se distribuíram em um mesmo território.

Drones voaram a aproximadamente 60 metros acima da superfície para capturar imagens, que passaram por processamento 3D — o aparato tecnológico contribui para a recriação digital do relevo e das estruturas arqueológicas. "O quadro que emerge é o de uma paisagem ocupada por uma variedade de grupos humanos desde pelo menos 6000 a.C. até o século 18", ressalta Oyaneder.

"Esses grupos se deslocaram estrategicamente pelas terras altas, atrelados principalmente aos recursos de caça, em particular à vicunha”, acrescenta. "As evidências indicam modos de vida sobrepostos, combinando caça e coleta com práticas agropastoris, e uma rede de assentamentos sazonais de curto prazo e postos avançados para ajudar as pessoas a se moverem por terrenos acidentados e difíceis."

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