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Vinicius Garcia
14 de nov, 2025, 08:11
Rosamaria Montibeller, jogadora do Denso Airybees e da seleção brasileira de vôlei, teve um 2025 bastante movimentado. Tendo conquistado uma prata e um bronze com seu país, na VNL e no Mundial, respectivamente, a oposta também renovou seu contrato no Japão para a atual temporada.
Na terra do sol nascente desde 2023, Rosamaria foi um dos destaques da equipe na conquista da V-Cup naquela mesma temporada. Hoje, a brasileira faz dupla com sua compatriota Sabrina Machado no início de mais uma SV.League.
Após conduzir a seleção brasileira ao bronze no Mundial de Vôlei, a brasileira, que renovou contrato ainda durante a competição, iniciou a nova temporada da Liga Japonesa com poucos minutos em quadra, após ano recheado de jogos.
Agora, ela busca defender seu prêmio de “Most Impressive Player”, a melhor jogadora da equipe, e busca seu primeiro título da liga japonesa. Em meio ao seus regressos à quadra, a oposta falou com exclusividade à ESPN Brasil e falou tudo sobre sua renovação, as medalhas com a seleção e o ciclo olímpico de Los Angeles.
A carreira e a renovação no Japão
Se hoje Rosamaria é eleita para a seleção da liga japonesa e colhe frutos da sua convivência com um estilo de jogo que a favorece, a ida da catarinense para o Japão, ainda em 2023, foi alvo de bastante polêmica.
Tendo passado quatro temporadas na liga italiana, considerada a melhor do mundo, Rosamaria foi muito questionada quando optou trocar a Europa pelo Japão. Apesar de ambos os países estarem entre o topo das competições de voleibol, a SV.League ainda era vista como um passo atrás em termos de qualidade.
O país, entretanto, agora quer que o nível de sua liga seja o mesmo de sua seleção, e pretende ter a maior competição do mundo até 2030. Um dos passos, inclusive, foi a expansão do número de vagas para estrangeiros, o que trouxe a própria Rosamaria, além de sua companheira de equipe Sabrina, por exemplo.
Rosamaria, entretanto, não questiona quem duvidou de sua transferência para o Japão. Reconhecendo que os fãs não tem acesso ao seu planejamento de carreira, a brasileira reforça os pontos que a levaram ao Denso Airybees, único time que defendeu no país.
“Ao longo da minha carreira, eu tentei tomar as decisões que me levariam a um patamar mais acima”, inicia Rosamaria. “Então, essa vinda para o Japão, em um primeiro momento, foi de fato para buscar uma evolução técnica e tática para o meu estilo de jogo, porque eu entendi ao longo desses anos as minhas características, os meus pontos fortes e os meus pontos fracos”. A mudança, inclusive, não foi apenas pensando na carreira por clubes de Rosamaria. O estilo de jogo japonês, conhecido por uma grande disciplina tática que, somada a reflexos incríveis, gera uma defesa de altíssimo nível, algo que a oposta reconhece ser um ponto importante em seu jogo.
“Então, eu queria ir para um estilo de jogo completamente diferente, onde você tem que ter paciência, inteligência técnica e tática, golpes e melhora na defesa, que era o que eu almejava como seleção brasileira.”
Reconhecendo que também necessitava de um “refresh” após sua passagem na Itália, a catarinense hoje afirma categoricamente que: “Três anos depois, eu posso dizer com muita alegria que eu sou muito feliz com a escolha“.
Com um título e algumas premiações individuais em seu currículo, Rosamaria então optou por renovar seu contrato com o Denso Airybees, reconhecendo que suas metas iniciais de desenvolvimento foram atingidas e, na verdade, continuam sendo cumpridas.
“Me sinto desafiada, isso é o que me dá mais paixão de estar aqui”, explica. “E eu sinto que eu consegui crescer um pouco mais a cada temporada, apesar de todos os desafios, principalmente nessa última temporada de quantidade de jogos e cansaço. Mas eu sinto que eu consegui criar mais confiança em mim mesma, no meu jogo”.
“Mas continuo achando que eu tenho muito para absorver delas e da cultura. Então é isso que me mantém aqui, é entender que eu ainda tenho muito para dar e tenho muito para aprender”, pontua a brasileira.
Além disso, o prospecto de crescimento da SV.League, sem dúvidas, foi levado em consideração por Rosamaria para avaliar sua permanência. Ser uma das principais representantes de um projeto ambicioso é sempre uma boa oportunidade, como ela reconhece.
“No primeiro ano que eu estava aqui, era uma estrangeira só, agora a gente já está em duas. E eles tem esse planejamento de crescer o número de estrangeiras no projeto da Liga. Fico feliz de estar fazendo parte dessa mudança e fico curiosa para saber como é que vai ser essa liga daqui a um tempo”, explica.
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O estilo de jogo do Japão e da Rosamaria
Se, de um lado, a SV.League ainda está em ascensão, a seleção japonesa já é uma das grandes potências do vôlei feminino, sendo dono de duas medalhas olímpicas de ouro. O país, que ainda se encontra na elite do esporte, enfrentou o Brasil na VNL e no Mundial, sendo derrotado em ambos, mas apresentando um desafio difícil.
O reflexo defensivo das japonesas que chama tanto a atenção, e que fez a vida das brasileiras ficar mais difícil, muitas vezes parece algo sobrenatural. As recepções rápidas no limite, entretanto, tem razões bastante humanas, como revela Rosamaria.
“Realmente, às vezes parece que elas fazem coisas sobre-humanas. Elas chegam em umas bolas que eu falo: não é possível, ela já estava no chão, como é que você conseguiu botar para cima?”, brinca Rosa.
“Eu vejo que, além dos treinos com bola, elas fazem muito treinos de reação e de mobilidade. Exercícios para exercitar a mente e a visão periférica. Então, além de todo esse trabalho na quadra, eu acho que isso é um diferencial muito grande.”
E é justamente por esse duro estilo defensivo que a catarinense entende que pode se desenvolver no país. Considerada baixa para posição, Rosa é constante alvo de comparação com outras opostas de elite, como a sérvia Tijana Boskovic, com características mais ofensivas que a brasileira.
Tendo que lidar com comparações constantes ao longo da carreira, a brasileira, que apresenta muitas valências defensivas, algo mais raro na posição, pode consolidar não só seu jogo no Japão, como sua confiança.
“As pessoas sempre vão querer alguma coisa ou a mais ou talvez diferente. Você pode agradar um e depois você não vai agradar o outro. Existe muita comparação no nosso meio, e isso é muito complicado, lógico. Mas ao mesmo tempo eu entendi que eu tenho características que certas outras jogadoras também não têm. E elas têm características que eu não tenho. Então, de que maneira que eu vou fazer essas minhas características prevalecerem ou serem importantes em um momento decisivo?”, explica a jogadora.
“Eu sei que muitas vezes que o time vai precisar de uma jogadora de dois metros e que ataque por cima e faça alguma outra coisa. Em outros momentos o time talvez vá precisar de uma jogadora como eu, que consiga olhar um bloqueio, que ajude mais na defesa. Todos nós temos pontos fortes e fracos, não existe uma jogadora perfeita, então a partir do momento que eu entendi isso, acho que eu fiquei mais tranquila”, finaliza.
Poucos minutos no início da temporada
Apesar da melhora técnica e tática garantida por Rosamaria, a nova temporada de Sv.League começou com a brasileira jogando sob restrição de minutos. Vinda de uma medalha de bronze no Mundial, a catarinense esteve menos em quadra do que é comum para uma jogadora de seu calibre.
Rosamaria, entretanto, é rápida ao esclarecer que a restrição de minutos não tem relação com qualquer problema físico, já que ela garante que está “super bem”.
“Estou empolgada com o começo dessa temporada. Terceira temporada aqui no Japão e de fato, o atleta, lógico que é saudável, mas o corpo ele sofre , o corpo e a mente, porque é lógico que é bastante pressão, bastante exigência. Então é difícil a gente conseguir se manter no mesmo ritmo o tempo inteiro.”
“Então pausas e descanso também são importantes. Eu acho que eu consegui ter um descanso antes de começar aqui, por mais que pequeno, mas consegui ter. E agora, neste início de temporada, eu estou super bem fisicamente, sem nenhuma dor, sem nenhuma lesão”, explica.
O motivo dos minutos reduzidos nos primeiros jogos, portanto, é muito mais pragmático. A carga reduzida faz parte do planejamento traçado pelo time para a temporada, visando não sobrecarregar a oposta após uma longa temporada por clube e seleção.
“Nos dois primeiros finais de semana eu não participei muito, mas foi um planejamento feito com o meu técnico aqui e com o staff quando eu cheguei. Ele me apresentou o plano que eles tinham para mim nesse começo e a gente discutiu bastante a situação de ter sido uma temporada bem desgastante também com a Seleção”, explica.
“Eu vim da temporada longa aqui e já me apresentei na Seleção, não tive muito tempo de descanso. Foi difícil do meio pro final da temporada, por causa da exigência, da quantidade de jogos. Então a gente tentou fazer um planejamento um pouco diferente para esse ano.”
O tempo reduzido em quadra, por outro lado, não foi impeditivo para Rosa começar a se entrosar com suas novas companheiras de equipe, como sua compatriota, Sabrina.
“Então eu participei pouco, participei entrando em inversões e jogando um pouco mais alguns jogos, mas estou criando ainda mais conexão com o time e conhecendo essas jogadoras novas, Tem a Sabrina, que veio do Brasil agora. Muito legal ter mais uma brasileira aqui no time. Estou me sentindo super bem dentro de quadra e a sintonia está melhorando”, finaliza.
VNL, mundial e as lições para o ciclo olímpico
Se Rosamaria teve que começar a temporada japonesa com menos minutos, a responsável por isso, pelo menos em parte, tem nome: a seleção brasileira. Disputando duas competições com a amarelinha só em 2025, a catarinense e suas companheiras de equipe tiveram um início de ciclo olímpico movimentado após o bronze nos Jogos Olímpicos de Paris.
Mesmo que ainda restem três anos até as Olimpíadas de 2028, em Los Angeles, as primeiras competições do ciclo já serviram para calcificar algumas conclusões sobre o cenário das seleções.
As melhores seleções do mundo, por exemplo, já começam a se desenhar: Japão, Brasil, Itália, Turquia e Polônia apresentaram boas performances e ficaram bem colocadas em ao menos uma das competições. Além disso, é notável a paridade entre elas, algo que Rosamaria destaca.
“Hoje em dia não existe mais um jogo tranquilo, todo mundo tem um nível muito parecido e isso é muito legal, muito importante”, inicia.
Pensando nas duas medalhas conquistadas esse ano, de bronze e de prata, Rosamaria retoma o tópico da paridade, destacando a pouca separação que existe entre a seleção campeã e as outras do campeonato.
Até por isso, a brasileira sente dificuldade de apontar os pontos de melhoria da seleção brasileira. Ou ainda, o que faltou para que as medalhas fossem convertidas em dois ouros, que foram conquistados pela Itália.
“E é difícil dizer também o que eu acho que falta, porque eu acredito que o nosso time tenha tudo, tem a qualidade técnica, tática, mental, força, é um bom grupo. Sinceramente, eu acho que é continuar trabalhando. É questão de momento, porque tenho certeza que não foi por falta de merecimento.”
“E principalmente nesta última competição (Mundial de Vôlei), como todo mundo viu, faltou muito pouco para chegar numa final. E é um detalhe, uma coisa de jogo, uma coisa que acontece. A gente jogou até o final, até o último ponto. E é o que tem acontecido nos nossos campeonatos”, justifica Rosamaria.
Então, até as Olimpíadas de 2028, Rosamaria destaca que cabe às jogadoras voltarem aos seus clubes, como ela fez no Japão, e se aprimorarem para aumentarem o nível da seleção. É a troca entre as jogadoras que melhora o time, aponta a catarinense.
“A gente conversa bastante e é bem legal essa troca que a gente tem quando chega lá. A gente fala das nossas experiências, das dificuldades e do que sentiu que evoluiu e do que a gente pode acrescentar. De que maneira eu posso levar o que eu estava fazendo de bom aqui para fazer lá e ter um resultado?”
Nesse meio tempo, enquanto não chegam as Olimpíadas, Rosamaria segue no Japão, e carrega consigo os ensinamentos que finalmente podem trazer o ouro em Los Angeles.
“Acho que às vezes, quando falta esse pouquinho, é tão difícil. Dá uma frustração ao mesmo tempo, umas emoções misturadas. A gente sabe que podia ter brigado também mais, no Mundial principalmente. Faltou pouco para vencer a Itália nesta semifinal, mas é uma equipe incrível e que fez um jogo incrível.”
“Então elas hoje são o time a ser batido. Olhamos para elas para entender onde temos que melhorar. Eu acho que a gente teve um pouco de dificuldade nessas finais de exercer taticamente o que a gente tinha planejado, mas também em prol da qualidade dos times do outro lado”, explica.
“Foi importante esse início de ciclo também, logo após a Olimpíada, ver como a equipe se comportou super bem, com jogadoras muito novas aparecendo e ganhando mais responsabilidade. Então estou bem confiante com esse grupo”, finaliza Rosamaria.

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