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Demorei algumas horas para conseguir escrever sobre o último capítulo de “Vale Tudo”. Ainda estou em choque. O que foi aquilo? Um escárnio, uma piada. Um capítulo mal dirigido, mal executado, sem coerência, sem lógica, sem alma.
A coluna já tinha adiantado que era provável que Odete (Débora Bloch) não tivesse morrido — mas a forma como isso foi feita foi simplesmente absurda. A novela terminou deixando uma enxurrada de perguntas sem resposta: como Odete conseguiu ligar para o Freitas (Luis Lobianco)? Que corpo foi enterrado em seu lugar? Como ela foi operada em um casebre, sem nenhum tipo de equipamento?
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Odete (Debora Bloch) morre em "Vale Tudo"Reprodução/Globo

Odete Roitman, a vilã de "Vale Tudo", novela da GloboReprodução: Globo

Odete Roitman, interpretada por Debora Bloch em "Vale Tudo", morreu no Copacabana Palace, no RJCrédito: Reprodução Instagram @deborablochoficial

Odete Roitman, interpretada por Debora Bloch em "Vale Tudo", morreu no Copacabana Palace, no RJCrédito: Reprodução Instagram @deborablochoficial

Maria de Fátima (Bella Campos) em "Vale Tudo"

Marco Aurélio (Alexandre Nero) e Leila (Carolina Dieckmmann) são presos no fim de "Vale Tudo"AgNews

Banana para o Brasil! Alexandre Nero mostra bastidores de icônica cena de "Vale Tudo"Reprodução / @alexandrenero

Valeu Nada! Final de "Vale Tudo" decepciona e não supera audiência da morte de OdeteReprodução: Globo
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E mais: por que César (Cauã Reymond), um bilionário, foi atrás de Fátima (Bella Campos) e do fazendeiro para aplicar outro golpe? Heleninha (Paolla Oliveira) vai responder processo pela morte da mãe? Nada disso faz sentido.
A impressão que fica é que a autora já estava de saco cheio, com preguiça de escrever, e decidiu empurrar qualquer coisa para encerrar a história. Só isso explica a quantidade de pataquada que vimos.
Esse último capítulo não foi apenas mal dirigido e mal executado — ele foi o fechamento perfeito de uma novela que foi mal dirigida e mal executada do início ao fim. Um desfecho à altura da bagunça que a antecedeu.
O problema de “Vale Tudo” não está só no final. O problema é estrutural. Desde o início, a novela parecia perdida, sem rumo, sem entender o que queria ser. Tentou se vender como uma releitura moderna, mas o resultado foi uma colagem malfeita de situações forçadas, diálogos sem peso e personagens sem coerência.
Faltou direção, faltou propósito, faltou cuidado. E sobrou arrogância. Era como se a equipe acreditasse que bastava citar nomes icônicos e jogar uma trilha sonora nostálgica para repetir a grandiosidade da original. Só que “Vale Tudo” — a verdadeira — era sobre caráter, sobre ética, sobre o que vale e o que não vale numa sociedade podre. Esta nova versão foi só sobre vaidade e oportunismo, tanto dentro quanto fora da tela.
A narrativa parecia escrita no piloto automático. Arcos eram abertos e abandonados. Personagens mudavam de personalidade de um capítulo para o outro. Situações absurdas surgiam do nada, sem consequência ou lógica. O público foi tratado como se não percebesse o descuido. Mas percebeu. Cada inconsistência, cada cena preguiçosa, cada decisão sem sentido.
Por isso o último capítulo faz sentido — dentro da própria ruína que a novela construiu. Ele não é uma exceção. Ele é a síntese. É o retrato final de um projeto que começou errado e terminou sem dignidade.
E o público, que esperava rever a força de “Vale Tudo”, recebeu um arremedo vazio. Uma paródia sem graça de um clássico que continua intocável justamente porque tinha o que esta versão nunca teve: verdade.