Operadoras de satélite reforçam aposta em sistemas multi-órbita

há 1 dia 3
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 Rudy Trindade/Themapres.Da esquerda para a direita: Fábio Alencar (vice-presidente de vendas da SES); Eloi Stivalletti (diretor de vendas da Eutelsat); e Ana Carolina Botelho (consultora da NovaSpace). Imagem: Rudy Trindade/Themapres

O setor de telecomunicações por satélite está passando por uma mudança de paradigma. Durante o Congresso Latinoamericano de Satélites, realizado nesta quarta-feira, 8, no Rio de Janeiro, executivos e consultores reforçaram a visão de que os sistemas multi-órbita, que combinam satélites de diferentes altitudes de constelação, não são mais uma tendência, mas uma realidade para o mercado corporativo.

Consultora da NovaSpace, Ana Carolina Botelho lembrou que "após décadas de domínio" dos satélites geoestacionários (GEO), o mercado observou uma rápida transição para os sistemas de baixa órbita (LEO). Ela avaliou que essa mudança, impulsionada pelo crescimento das constelações como a Starlink e a OneWeb contribuiu trazendo maior flexibilidade para novas aplicações. 

Para as operadoras, essa flexibilidade se traduz numa oportunidade para atender clientes com necessidades críticas. "Essas soluções multi-órbita se aplicam a serviços que requerem um SLA [acordo de nível de serviço] mais elevado, aqueles em que, de fato, não se pode incorrer no risco de ficar fora do ar, já que isso poderia trazer prejuízos", contou o diretor de vendas da Eutelsat, Eloi Stivalletti. A tecnologia SD-WAN, segundo ele, é a chave para a integração, pois facilita a integração entre as diferentes tecnologias que, "embora sejam distintas, são complementares". O desafio, no entanto, é convencer os clientes que hoje pensam estar bem atendidos apenas com soluções LEO de que há benefícios em uma abordagem mais ampla.

Essa visão também foi corroborada pelo VP de vendas da SES, Fábio Alencar. "A multi-órbita nasce de uma necessidade", disse. Ele citou exemplos de setores como óleo e gás, mineração e internet a bordo (IFC) que precisam de conectividade ininterrupta.

"Temos que parar de vender tecnologia e vender serviço. Nós vendemos uma conectividade", afirmou Alencar. Essa abordagem, de acordo com o executivo, permite que a operadora use a melhor tecnologia (seja GEO, MEO, LEO ou até mesmo fibra) para compor uma solução competitiva.

Impulso na escala

Ana Carolina Botelho comentou que a NovaSpace estima que a adoção em larga escala de soluções multi-órbita deve "disparar a partir de 2030". As principais verticais a impulsionar esse crescimento, segundo a análise da empresa, serão a internet a bordo e os investimentos em defesa.

"Claro que existem todos os entraves em relação a custo e complexidade dos projetos. Mas, a nível global, vemos de forma geral um crescimento nos investimentos em defesa. Então, é de se esperar que essa vertical de telecomunicações, vinculada a maior resiliência e robustez, também seja impulsionada", disse a consultora.

Starlink na realidade

Nos corredores do Congresso Latinoamericano de Satélites este noticiário colheu muitos relatos de grandes usuários de satélite que hoje têm substituído, em grande parte das aplicações, sua conectividade via satélite tradicional por acessos da Starlink. MAs muitos já apontam, informalmente, alguns problemas.

Segundo uma grande operadora de telecomunicações ouvida por este noticiário, um dos desafios é o pós-venda. "A Starlink tem uma estrutura mínima no Brasil. Toda a interação acaba sendo padronizada, por meio de um aplicativo, e isso toma muito tempo. A tecnologia funciona e está em um custo muito competitivo, mas temos muitas dificuldades".

Outro comprador da Starlink ouvido por este noticiário diz que até mesmo pagar a empresa pelos serviços prestados é complicado. "No começo, tinha que ser por cartão de crédito e reembolso, porque eles não se ajustavam aos nossos sistemas de pagamento. Hoje melhorou, agora eles têm planos corporativos de pacotes de dados que agregam vários terminais", diz o usuário, que prefere não aparecer.

Outro relato colhido diz respito aos SLAs (níveis de qualidade). "Hoje não vejo mais isso como um problema (o fato de a Starlink tradicionalmente não oferecer SLA garantido). Já temos uma certa garantia, suficiente para as aplicações menos críticas". A Starlink não participou do evento de satélites, apesar de ser o tema central e recorrente de quase todos os debates (Colaborou Samuel Possebon).

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