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Higor Ciconello e Vinicius Garcia
1 de nov, 2025, 04:00
Depois de mais de um ano sem lutar, Norma Dumont volta ao octógono com a serenidade de quem aprendeu a transformar frustração em combustível. Neste sábado (1), no UFC Fight Night, a brasileira encara Ketlen Vieira em um duelo entre duas das principais representantes do peso-galo feminino. E garante: nunca esteve tão bem, física e mentalmente. “Cara, tô me sentindo muito bem, tô bem tranquila. Cheguei, acho, no ápice da forma física pra essa luta. Não tenho lesão, não tenho problema nenhum. Tô feliz, empolgada e pronta”, afirmou a mineira, confiante.
Norma precisou se reinventar após o fim da divisão dos penas. A mudança para o peso-galo exigiu paciência e adaptação, mas também abriu um novo ciclo na carreira. O processo, segundo ela, foi feito com tempo e acompanhamento, algo que fez toda a diferença. “O UFC foi muito bom comigo nesse aspecto. Eles me avisaram com um ano de antecedência que a categoria dos 66 kg ia acabar. Tive tempo para ajustar o corpo, procurar médicos e descobrir até que eu tinha endometriose, o que me atrapalhava muito. Hoje está tudo controlado. Me sinto bem, mais forte e na minha melhor forma física.”
Entre a paciência e a frustração
O último ano foi uma montanha-russa de emoções. Norma viveu a rotina de um atleta em camp sem saber se, de fato, lutaria. Foram meses de espera, cancelamentos e adversárias que recusaram o confronto. “É frustrante. Eu amo lutar, e ficar parada é horrível. O UFC tentou me colocar em Abu Dhabi, depois no Noche UFC, depois no UFC Rio, e ninguém aceitava. Quando finalmente consegui uma luta, caiu de novo. Eu aceitei qualquer uma, porque só quero lutar."
A falta de atividade é algo que a incomoda profundamente. Aos 35 anos, ela vê cada oportunidade como preciosa e não quer mais desperdiçar tempo. "Passei 2024 inteiro sem lutar. É ruim demais. Quero ritmo, quero mostrar meu trabalho", desabafa.
Duelo com Ketlen Vieira: respeito e determinação
A luta deste sábado traz um elemento especial: o respeito. Norma e Ketlen já treinaram juntas anos atrás, quando ainda buscavam espaço no cenário internacional. Por isso, o confronto tem um sabor agridoce, inevitável, mas inevitavelmente simbólico.
"Nunca mirei na Ketlen. Sempre evitei, por respeito a ela, mas chegou o momento. Uma hora ou outra esse casamento ia acontecer", reconhece.
Apesar da admiração, a confiança em si mesma é inabalável. "A Ketlen é dura, grande, tem um bom jogo de quedas, mas eu sinceramente acho que sou melhor em todas as áreas. Mais forte fisicamente também. É uma luta perigosa, mas eu tô pronta pra qualquer cenário."
Crítica à elite do peso-galo: "Ninguém quer lutar"
Se há algo que Norma não evita é falar o que pensa. A brasileira voltou a criticar o topo da divisão, que, segundo ela, estagnou. Para Dumont, o principal problema é a falta de renovação e a resistência das veteranas em aceitar novos desafios.
"A maioria das meninas do top 5 tem mais de 35 anos. É uma categoria que precisa se renovar, mas elas não aceitam lutar com quem vem subindo. Preferem ficar paradas um ano do que enfrentar alguém menos ranqueada."
Ela compara a situação com outras divisões femininas, nas quais o movimento é constante.
"Você vê a Natália Silva, a Erin Blanchfield, a Fiorot… todas lutam com quem está chegando. No peso-galo, as meninas travam. É uma categoria envelhecida, que precisa se movimentar."
Mesmo sem luta durante boa parte de 2024, Norma foi uma das poucas dispostas a aceitar qualquer adversária. "Eu aceitei até atletas do top 15. O problema é que elas não quiseram. É assim que a categoria não anda."
Olhando para o topo: Amanda Nunes ou Kayla Harrison?
Com a aposentadoria (ainda que temporária) de Amanda Nunes e a chegada de Kayla Harrison ao UFC, a divisão feminina ganhou novos ingredientes. E Norma, que já flerta com o topo do ranking, observa com atenção. "Se a Kayla vencer, seria incrível lutar com ela, talvez até na Casa Branca. Mas se for a Amanda… é a Amanda Nunes! A maior de todos os tempos. Qualquer evento com ela é especial. As duas trazem desafios diferentes, mas estou pronta pra qualquer uma."
Para ela, enfrentar Nunes seria o ápice da carreira e também o maior desafio técnico. "A Amanda é mais completa, exigiria um cálculo maior de estratégia. Já a Kayla é fortíssima no grappling, mas há caminhos na trocação. Cada uma traria uma guerra diferente."
"Vamos trabalhar"
A meta de Norma é simples: lutar, vencer e renovar o peso-galo. Caso alcance o cinturão, ela promete ser uma campeã ativa o oposto da estagnação que tanto critica.
"Quando eu for campeã, quero defender o cinturão pelo menos duas vezes por ano. De preferência três. Só isso: vamos trabalhar. Fazer essa divisão grande de novo, porque ela merece."
Norma Dumont sobe ao octógono neste sábado (2), contra Ketlen Vieira, pelo UFC Fight Night em Las Vegas. Mais do que uma luta, é a chance de recomeçar e provar que a paciência, o trabalho e a persistência ainda são os golpes mais certeiros no MMA.

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