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No Brasil, a desigualdade entre homens e mulheres ainda pesa tanto no trabalho quanto dentro de casa. Essa realidade fica ainda mais evidente quando a mulher ganha mais que o parceiro – situação que, em vez de aliviar pressões financeiras, muitas vezes traz tensões para o casal.
Segundo o 3° Relatório de Transparência Salarial, de 2024, as mulheres recebem, em média, 20% menos que os homens. E, mesmo quando avançam no mercado de trabalho, continuam com uma carga extra: um estudo do Ipea, de 2023, mostrou que a mulher dedica cerca de 11 horas a mais por semana às tarefas domésticas e a cuidados não remunerados.
Esse cenário ajuda a explicar por que tantas relações balançam quando a mulher passa a ser a principal provedora. Se por um lado ganhar mais pode ampliar o conforto da família, por outro desafia papéis tradicionais e acaba virando motivo de conflito em muitos casos, mostrando como a diferença de renda no casal pode pesar no dia a dia.
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Juliana Miranda, planejadora financeira CFP, conta que esse tema costuma chegar a ela quando a mulher já tentou de várias formas equilibrar as finanças e o diálogo em casa, mas sente que não está sendo ouvida. Nesse momento, o planejador entra como mediador do casal, que valida estratégias, estrutura planos e ajuda a criar um espaço seguro para que ambos conversem sobre dinheiro sem que isso vire motivo de conflito.
“O trabalho do planejador financeiro também envolve alinhar expectativas, definir objetivos comuns e encontrar formas de contribuição que respeitem tanto a renda quanto o papel de cada um”, explica a especialista. Essa atuação é parte do planejamento financeiro para casais, que ajuda a transformar tensões em acordos práticos.
Dinheiro e autoestima: os riscos para o relacionamento
Não é novidade que finanças são um dos principais pontos de atrito nos relacionamentos. Mas quando a mulher ganha mais que o parceiro, a situação pode ficar ainda mais delicada, gerando conflitos de admiração e reconhecimento dentro do casal, observa Juliana.
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E, sem diálogo, o desequilíbrio aumenta mais ainda. “É comum que a mulher acabe sobrecarregada, assumindo sozinha a responsabilidade financeira, enquanto silencia suas frustrações para evitar brigas. Esse cenário mina a parceria e pode desgastar profundamente a relação”.
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Questão cultural: não é só sobre dinheiro
A diferença de renda não envolve apenas números, pois também traz à tona aspectos culturais e emocionais. De acordo com a especialista, a mulher que alcança um patamar de renda superior muitas vezes é rotulada de workaholic e uganda por não estar tão presente em casa ou com os filhos.
“Enquanto isso, muitos homens ainda carregam o peso do papel de provedor, o que gera frustrações e inseguranças. O resultado é um ciclo de culpa e cobranças por parte de ambos”, observa Juliana.
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Para romper esse ciclo, diz ela, é preciso enxergar a renda como um recurso da família, e não como disputa individual. A transparência é o primeiro passo para reduzir os efeitos da diferença de renda no casal e evitar que o peso recaia somente em um dos lados.
Estilo de vida e pequenos gestos que podem gerar tensões
Para Juliana, outro ponto sensível é a maneira como cada um lida com o dinheiro, sendo comum as comparações sobre gastos pessoais.
Ela lembra de situações em que a mulher compra algo para si e sente a necessidade de comprar também para o parceiro, para evitar ressentimentos. “Essa dinâmica trava o crescimento do casal, porque o foco passa a ser o controle mútuo em vez da construção conjunta”, diz.
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A diferença de renda também pode gerar descompassos no estilo de vida. Quando um deseja gastar mais do que o outro consegue acompanhar, a sensação de injustiça cresce e começam a aparecer tensões em situações banais, como lembra a planejadora.
Uma das tensões mais comuns é o famoso “quem paga, decide”. Situações simples, como escolher um restaurante, podem se transformar em disputas veladas, e há casos em que essa dinâmica chega a extremos.
“Já houve casos em que o cartão de crédito da mulher fica na carteira do parceiro, ou ela o entrega discretamente para que ele faça o pagamento em público, preservando a imagem de provedor. Esses gestos, ainda que pareçam pequenos, alimentam mágoas e inseguranças de ambos os lados quando repetidos”, avalia a planejadora.
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Transparência e reconhecimento: a chave do equilíbrio
Seja qual for o contexto, a diferença de renda não precisa se transformar em uma barreira ou em crise no casamento. Pelo contrário, pode ser uma oportunidade para fortalecer a parceria.
Para Juliana, quando a mulher ganha mais do que o parceiro, a saída passa por três pilares: transparência, planejamento conjunto e reconhecimento mútuo.
“O ideal é que a contribuição seja medida não apenas em termos financeiros, mas também pelo equilíbrio que cada um traz à rotina da família”, conclui a especialista.