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A versão mais recente do estudo Global Burden Disease (GBD) foi publicada no último domingo (12) na revista científica The Lancet e apresentada durante o World Health Summit em Berlim. O estudo é a pesquisa mais abrangente sobre a perda de saúde na população mundial, e contou com 16,5 mil cientistas, que usaram mais de 310 mil fontes de dados diferentes.
O levantamento traz dados preocupantes: o número de mortes de adolescentes e jovens adultos têm aumentado no continente americano e na África Subsaariana. A maioria das mortes americanas são resultados de transtornos mentais – como a ansiedade e a depressão que cresceram, respectivamente, 63% e 26% –, overdose de drogas e consumo exagerado de álcool. Na região do sul do deserto do Saara, por outro lado, a maioria das mortes provém de doenças infecciosas e ferimentos não intencionais.
A pesquisa destaca a necessidade das políticas públicas de saúde incluírem adolescentes e jovens adultos em medidas que priorizam exclusivamente a redução da mortalidade infantil.
“As evidências apresentadas no GBD são um chamado aos governadores e lideranças da área da saúde para responderem rápida e estrategicamente às tendências que estão remodelando as necessidades de saúde pública”, declarou Christopher Murray, da Universidade de Washington, em comunicado.
Mais crianças, menos jovens
Apesar de a expectativa de vida global ser semelhante aos padrões pré-pandêmicos – 76,3 anos para mulheres e 71,5 para homens –, os dados mais recentes do GBD apontam para desigualdades geográficas profundas. Enquanto regiões de alta renda registram expectativa de vida média de 83 anos, na África Subsaariana esse número cai para 62 anos. A diferença também é evidente na idade de morte: em 2023, mulheres africanas morreram, em média, aos 37 anos, e homens, aos 35 – quase metade da média observada em regiões desenvolvidas.
Entre 2011 e 2023, houve aumento nas mortes de jovens adultos – na faixa etária dos 20 aos 39 anos – na América do Norte, sendo a saúde mental uma das principais preocupações. “Isso são mídias sociais? São dispositivos [eletrônicos]? Sabemos que isso foi agravado pela Covid, [mas] há muita controvérsia na análise social sobre as causas da saúde mental. Isso é um problema para encontrar soluções”, reflete Murray.
As mortes na faixa etária de 5 a 19 anos também aumentaram, especialmente na América do Norte e na Europa Oriental. Por outro lado, no Leste Asiático, a taxa de mortes de menores de cinco anos caiu 68% entre 2011 e 2023, impulsionada por melhorias na nutrição, vacinação e fortalecimento dos sistemas de saúde.
Na África Subsaariana a situação permanece crítica. A mortalidade em crianças de 5 a 14 anos entre 1950 e 2021 foi maior do que o estimado anteriormente, resultado de infecções respiratórias, tuberculose e ferimentos não intencionais. Mulheres jovens adultas – de 15 a 29 anos – também enfrentam risco elevado: a taxa de mortalidade foi 61% maior do que o estimado pelo GBD, com causas principais ligadas à gravidez, parto, acidentes de trânsito e meningite.
O estudo também revela uma mudança significativa no perfil das causas de morte. As doenças infecciosas têm dado lugar às doenças não transmissíveis (DNTs), como cardiopatias isquêmicas, AVCs e diabetes.
Ao mesmo tempo, fatores sensíveis ao clima, como poluição atmosférica e calor extremo, continuam a impactar fortemente a saúde global, especialmente no sul da Ásia, norte da África e na região do Sahel, onde crises climáticas agravam a seca, a insegurança alimentar e o deslocamento populacional.
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O relatório também alerta para o risco de retrocessos. “Décadas de trabalho para reduzir a desigualdade em regiões de baixa renda com desigualdades persistentes em saúde correm o risco de se desfazer devido aos recentes cortes na ajuda internacional”, afirma Emmanuela Gakidou, da Universidade de Washington, em entrevista ao The Guardian. “Esses países dependem do financiamento global da saúde para cuidados primários, medicamentos e vacinas que salvam vidas. Sem isso, a desigualdade certamente aumentará”.
Diante de um cenário global complexo e desigual, especialistas reforçam a necessidade de estratégias integradas. Para Githinji Gitahi, da Amref Health Africa, a saúde é a principal área de investimentos para a qual as políticas públicas devem estar voltadas e enfrentar o aumento no custo de vida, o avanço das doenças não transmissíveis e as consequências das crises climáticas.