ANUNCIE AQUI
De Euronews com AP
Publicado a 10/10/2025 - 18:28 GMT+2
PUBLICIDADE
Milhares de palestinianos regressaram na sexta-feira ao norte da Faixa de Gaza, movendo-se num cenário de destruição, quando o cessar-fogo mediado pelos EUA entrou em vigor. O acordo aumentou as esperanças de acabar com a guerra entre Israel e o Hamas, prevendo-se que todos os reféns, vivos ou mortos, sejam libertados nos próximos dias.
Ainda há dúvidas sobre quem governará Gaza à medida que as tropas israelitas se retiram gradualmente e se o Hamas irá desarmar-se, conforme exigido no plano de cessar-fogo do presidente dos EUA, Donald Trump. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu deu a entender que Israel poderá renovar a sua ofensiva se o Hamas não entregar as armas.
A trégua marca, no entanto, um passo importante para o fim de uma guerra devastadora de dois anos, desencadeada pelo ataque do Hamas a Israel em 2023. Os combates mataram dezenas de milhares de palestinianos e deslocaram cerca de 90% da população de Gaza, de cerca de dois milhões de pessoas, muitas vezes várias vezes. Muitos encontrarão pilhas de escombros nos locais onde antes ficavam as suas casas.
As forças armadas confirmaram o início do cessar-fogo na sexta-feira, e os 48 reféns restantes, dos quais cerca de 20 se acredita estarem vivos, devem ser libertados até segunda-feira, avança a AP. Os palestinianos afirmaram que os bombardeamentos intensos em algumas partes de Gaza cessaram em grande parte após o anúncio das forças armadas.
Netanyahu anunciou numa declaração televisiva na sexta-feira que as próximas etapas incluiriam o desarmamento do Hamas e a desmilitarização de Gaza.
"Se isso for alcançado da maneira fácil, que assim seja. Se não, será alcançado da maneira difícil", disse Netanyahu, acrescentando que o Hamas concordou com o acordo "somente quando sentiu que a espada estava no seu pescoço - e ainda está no seu pescoço", reforçou o primeiro-ministro israelita.
As forças armadas israelitas afirmaram que continuarão a operar defensivamente a partir dos cerca de 50% de Gaza que ainda controlam, após recuarem para as linhas acordadas.
Entretanto, as Nações Unidas receberam luz verde de Israel para começar a entregar ajuda em Gaza a partir de domingo, disse um funcionário da ONU que falou sob condição de anonimato.
Nos últimos meses, a ONU e os seus parceiros humanitários só conseguiram entregar 20% da ajuda necessária na Faixa de Gaza.
Deslocados regressam a casa
Um fluxo constante de pessoas, a grande maioria a pé, amontoava-se esta sexta-feira numa estrada costeira na parte central da Faixa de Gaza, rumando a norte para ver o que resta das suas casas, numa repetição das imagens vistas no anterior cessar-fogo, em janeiro.
A destruição que encontrarão desta vez será ainda maior, depois de Israel ter lançado uma nova ofensiva na cidade de Gaza, no norte, nas últimas semanas. Os militares bombardearam arranha-céus e fizeram explodir casas no que disseram ser uma tentativa de destruir a infraestrutura militar remanescente do Hamas.
Os palestinianos expressaram alívio pelo fim da guerra, temperado com preocupação com o futuro e dor persistente pela morte e destruição impressionantes.
"Não houve muita alegria, mas o cessar-fogo amenizou um pouco a dor da morte e do derramamento de sangue, e a dor dos nossos entes queridos e irmãos que sofreram nesta guerra", disse Jamal Mesbah, que foi deslocado do norte e planeia regressar.
Na cidade de Khan Younis, no sul de Gaza, centenas de palestinianos que regressaram às suas casas encontraram edifícios destruídos, escombros e destruição após a retirada das tropas israelitas.
“Não sobrou nada. Apenas algumas roupas, pedaços de madeira e panelas”, disse Fatma Radwan, que foi deslocada de Khan Younis, acrescentando que ainda há quem tente recuperar corpos de debaixo dos escombros.
Muitos edifícios foram destruídos e nenhum ficou intacto. "Chegámos a um lugar que é irreconhecível. Uma cidade irreconhecível. A destruição está por toda a parte", disse Hani Omran, que também foi deslocado de Khan Younis.
A guerra começou quando militantes liderados pelo Hamas invadiram Israel a 7 de outubro de 2023, matando cerca de 1.200 pessoas e fazendo 251 reféns.
Na ofensiva israelita que se seguiu, mais de 67.000 palestinianos foram mortos em Gaza e quase 170.000 ficaram feridos, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, que não faz distinção entre civis e combatentes, mas afirma que cerca de metade das mortes foram de mulheres e crianças. O ministério faz parte do governo liderado pelo Hamas, e as Nações Unidas e muitos especialistas independentes consideram os seus números a estimativa mais fiável das baixas em tempo de guerra.