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De Euronews
Publicado a 10/11/2025 - 14:58 GMT+1
Angola assinala, na terça-feira, os 50 anos da independência do país face a Portugal. Marcelo Rebelo de Sousa é um dos convidados das celebrações, assinalando mais um importante marco nas relações entre os dois países. Numa nota no site da Presidência, o chefe de Estado fala numa visita "que constituirá um momento muito significativo na relação de estreita cooperação e profunda amizade entre Portugal e Angola".
Meio século depois, Portugal e Angola ultrapassaram os estatutos de colonizador e colonizado para mais do que países amigos. São países irmãos que partilham história, língua e raízes.
O presidente da República será acompanhado, na visita a Angola, pelo ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, e por um deputado de cada grupo parlamentar da Assembleia da República.
A visita de Marcelo Rebelou de Sousa será a sua sétima ao país, onde se deslocou para as tomadas de posse do presidente João Lourenço, em 2017 e 2022, e realizou uma visita de Estado, em 2019.
50 anos de independência
Meio século de independência ainda não trouxe, porém, a prosperidade ambicionada pelos angolanos, nem tampouco o básico que podiam almejar, como o fim da fome e da pobreza.
“A minha vida é difícil. Não consigo ganhar dinheiro nem comprar roupas melhores, mas o que realmente nos desgasta é a fome”, é o que conta Adelina à RTP no mercado de Kikolo, uma cidade na província de Luanda. “Não temos um lugar permanente para morar, não temos salário, não temos maridos. Estamos mais velhas — eu já tenho cabelos brancos — e estou aqui apenas para conseguir pão para o jantar, para mim e para a minha neta, que está aqui comigo”, explicou.
Quem passa por este mercado, considerado um dos locais emblemáticos, e mais perigosos, de Luanda, com movimento humano único, explica as dificuldades do cidadão comum.
“Tudo é caro. Um saco de arroz custa vinte e cinco mil kwanzas, um pacote de massa custa 350... onde é que vamos viver?”, questionou Helena, outra pessoa que ali fazia compras. “As rendas continuam a subir e os angolanos procuram comida no lixo. Olha para mim com este fardo na cabeça... é assim que as pessoas vivem”, lamentou a mulher.
As dificuldades são gerais, mas são os jovens que mais oportunidades pedem para vingar no país e ajudar no seu desenvolvimento. "A falta de trabalho afeta-nos. Queremos que os jovens tenham emprego e, como podem ver, também queremos que a sociedade dê mais apoio aos jovens, porque é através deles que podemos ajudar o país a crescer", explica Daniel, um dos jovens entrevistados em Kikolo.
O relatório sobre Índice Global da Fome 2025, intitulado "20 anos de monitoramento de progresso: hora de renovar o compromisso com fome zero", coloca o país entre os 13 piores do mundo. Angola ocupa a 111.ª posição entre 123 países e é o pior posicionado entre os países lusófonos.
Com uma pontuação de 29,7 no Índice Global da Fome de 2025, o país apresenta um nível de fome considerado grave. Os dados não deixam dúvidas: 47,7% das crianças angolanas sofrem de atraso no crescimento e mais de 22% dos cidadãos estão subnutridos.
Corrupção é a “pior desgraça”
A confirmar o cenário de fome generalizada do país estão os bispos católicos angolanos, que dizem que a fome e a pobreza em Angola têm sido agudizadas por vários fatores como a falta de políticas públicas sustentáveis na exploração dos recursos naturais, a corrupção, salários precários e a política fiscal “violenta”.
Ainda assim, para os bispos da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), a corrupção é a "pior desgraça" dos últimos 50 anos.
“Não é compreensível que um país como Angola, que tem rios abundantes, não consiga dar respostas às suas necessidades alimentares, mas também sabemos da existência de ‘lobbies' da importação muito poderosos que de alguma forma ofuscam ou sonegam a produção nacional”, criticou Belmiro Chissengueti, porta-voz da CEAST, citado pela agência Lusa.
Um quadro “associado à gangrena da corrupção, que tem sido a pior desgraça dos últimos 50 anos depois da guerra”, afirmou, defendendo a aposta na meritocracia.
Segundo os últimos dados do Índice de Perceção da Corrupção, elaborado pela organização não-governamental Transparência Internacional, o principal indicador global da corrupção no setor público, o país melhorou 14 pontos desde 2019, fixando-se no 121.º lugar entre 180 países e territórios e, na região da África Subsaariana, no 21.º entre os 49 países considerados.









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