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Com o sucesso do novo serviço digital de recepção de TV aberta (TVRO) via satélite, que já alcança entre 45 milhões e 60 milhões de brasileiros, o segmento de radiodifusão e a indústria já se mobilizam para habilitar a integração da tecnologia com a TV 3.0, nova geração da televisão digital aberta que deve chegar ao País em 2026.
O tema foi discutido na última quarta-feira, 8, durante o Congresso Latinoamericano de Satélites, no Rio de Janeiro. Na ocasião, o secretário de radiodifusão do Ministério das Comunicações, Wilson Wellisch, fez um balanço da capilaridade alcançada pelas novas parabólicas digitais de TVRO – seja a partir da distribuição de kits gratuitos pelo governo ou via vendas no varejo.
"Se somarmos os 5 milhões de kits da Siga Antenado com 10 milhões de kits de banda Ku vendidos, são 15 milhões de kits vendidos ou distribuídos. Considerando média de três a quatro moradores por domicílios, são de 45 milhões a 60 milhões de pessoas atendidas com o novo serviço digital de TVRO em satélite", ponderou Wilson, em participação remota no evento.
Agora, um desafio que se impõe é integrar este universo com outra política estratégica do governo: a implementação da TV 3.0. "O decreto [regulamentador da política] trouxe a possibilidade de trabalhar a TV 3.0 para mobilidade e satélites, e já nos reunimos para ver qual seria a possibilidade e as tecnologias, para ao máximo convergir e o cidadão ser pouco ou nada impactado", apontou Wilson Wellisch.
Radiodifusão
Paulo Henrique Castro, presidente da Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão (SET), relata que o trabalho para habilitar essa integração entre a TV 3.0 e os conversores via satélites já começou. Na entidade, o grupo que vinha atuando na pauta da conversão das parabólicas já foi direcionado para atuar nessa convergência.
Segundo Castro, é importante para os produtores a possibilidade de fazer conteúdo em um único formato e conseguir escoá-lo por todos os meios de distribuição possíveis. "A indústria tem que trabalhar e acredito nessa mobilização para a convergência, com uma camada de software que permita aos radiodifusores entregar conteúdo em um formato e, sem importar para onde ele está indo, que a experiência seja completamente fluida".
Eduardo Padilha, gerente comercial da Speedcast, também considerou viável o cenário de convergência entre a TV 3.0 e o satélite. "A possibilidade de ter hoje um receptor que receba os 80 canais legados e talvez os canais da TV 3.0 é muito factível". A tarefa, contudo, exigirá algum trabalho.
"Teremos que usar a mesma estrutura da camada de transporte para a subida do sinal via satélite", resumiu Padilha – indicando que o Fórum do Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre (Fórum SBTVD) também está estudando essa integração, em trabalho que terá sinergia com os debates conduzidos pela SET.
Indústria
Representando a indústria, Yvan Cabral, CEO da Vivensis, classificou como uma grande oportunidade a possibilidade de uma caixa conversora híbrida. A empresa (que é uma das principais fornecedoras dos kits de parabólica digital) já possui um equipamento que reúne os canais da TVRO e plataformas de streaming. O device é visto como um antecessor daquele que permitirá a convergência entre a TV 3.0 e o satélite.
"Em hardware estamos avançados. O que precisa é definir se vamos por aqui ou por ali", declarou Cabral. Hoje, a caixinha híbrida que a Vivensis já desenvolveu ainda enfrenta uma barreira de preço no varejo, mas o executivo projeta ganhos de escala que permitam em breve uma popularização do aparelho.
Oportunidade
Quem também tem acompanhado o debate atentamente é a Sky. Sergio Ribeiro, VP de operações da operadora, relata que a empresa tem observado fabricantes e a inovação tecnológica em torno do tema. O Grupo Werthein (dono da Sky) está atuando no segmento de TVRO com a Nova Parabólica, que permite a compra de conteúdo pago complementar entre usuários do serviço.
Assim, é interessante a perspectiva futura de existir equipamento que, "além da TVRO, possa se conectar com aplicativos e permitir a oferta de outros produtos". Vale notar que a Sky possui o Sky+, plataforma de streaming e conteúdo linear da empresa. "Estamos atentos ao tema", afirmou Ribeiro.
Vendas orgânicas
Enquanto a convergência entre a TV 3.0 e o satélite é estudada, o mercado também ingressa em uma nova fase de vendas orgânicas dos conversores de TVRO. "Existe um movimento mensal de ativação que ainda é interessante. Não é o mesmo de seis meses atrás, mas ainda vai se manter", afirmou Sergio Ribeiro.
"Falando de agosto e setembro, foram em média 238 mil [conversores de TVRO] ativados. Desses, aproximadamente 20 mil vieram do Brasil Antenado e 218 mil, do varejo. Então temos projeção de 2,4 milhões a 2,2 milhões ao ano em vendas. Esse é o mercado atualmente", afirmou Yvan Cabral, da Vivensis.
O Brasil Antenado, vale lembrar, é a nova fase do projeto de distribuição de kits pelo governo, que prevê alcançar 14 estados. Enquanto a etapa anterior (o Siga Antenado) distribuía o equipamento de banda Ku apenas em lares que tinham parabólica em banda C instalada, a fase atual iniciada em julho mira um conjunto de cidades com baixo índice de digitalização da TV, independente do equipamento que o espectador possuía em casa.