Horas no trânsito, comida e aluguel: como o dia a dia influencia na adaptação à universidade

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A alegria e o orgulho que a estudante Heloisa Teles Rodrigues sentia pela vaga em Terapia Ocupacional na USP no ano passado conviviam com a preocupação e a angústia para chegar até a Cidade Universitária, na zona oeste. Eram três horas e meia no trajeto a partir do Jardim Capela, no extremo da zona sul. A mobilidade melhorou com uma vaga de moradia no Conjunto Residencial da USP (Crusp), mas surgiram outros desafios, como a distância da faculdade para os restaurantes.

Embora as dificuldades sejam parte inseparável da vida universitária - quase todo mundo tem um perrengue para se lembrar dos tempos de calouro -, vale muito a pena olhar além da excelência acadêmica na hora de escolher a universidade.

As dificuldades de locomoção se tornam mais urgentes porque se somam a outras carências dos estudantes. Morador de Heliópolis, Thiago Neres, de 26 anos, precisa acordar às 5h para chegar às 7h30 na Escola Politécnica. Ele pega um ônibus até o Terminal Sacomã, dois metrôs e mais um ônibus até a Cidade Universitária.

"Acabei me tornando uma pessoa mais diurna. Mas, quando o semestre vai chegando próximo do final, vai ficando mais difícil devido à exaustão acumulada", conta o aluno de Engenharia de Produção.

Para facilitar essa adaptação, Condi recomenda que o aluno faça o trajeto até a faculdade durante a preparação para o vestibular. "Ele precisa ir até a faculdade e entender o tempo que leva para deslocar."

Cadê minha rede de apoio?

Em outras situações, o jovem tem de se adaptar a outra cidade ou estado. Essa é uma prática comum quando o aluno utiliza as notas do Enem para participar do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e disputar vagas em instituições públicas de ensino superior do País.

Aqui, é importante identificar as políticas de permanência estudantil, na opinião de Vanessa Passarelli, coordenadora de Futuro e Carreiras do Colégio Bandeirantes. As ações podem incluir: auxílios financeiros, apoio acadêmico, serviços e acompanhamentos voltados para saúde e bem-estar e, também, possíveis programas de inclusão.

"Buscar compreender a rede de apoio durante esse período de adaptação revela-se como essencial. A depender da distância, avaliar os custos, não apenas com moradia, alimentação e transporte, mas em possíveis viagens para a cidade de origem, por exemplo", diz.

Maria Clara Hernandes dos Santos teve de deixar a cidade de Vinhedo, no interior de São Paulo, para viver no Butantã, zona oeste, para ficar mais perto do curso de Relações Internacionais na USP.

"Passei a morar com uma amiga, longe da família, reorganizando meu cotidiano. Desenvolvi maior independência e controle sobre minhas próprias ações, sobre minha conta bancária e sobre minha vida no geral", diz a estudante de 19 anos.

Aqui entra o problema da moradia. Especialmente para universidades públicas, os custos de moradia podem ser um fator decisivo. O preço de venda de imóveis residenciais em São Paulo apresentou elevação de 6,56% em 2024, o maior número desde 2014, quando o acumulado anual foi de 7,33%, de acordo com o Índice FipeZap.

A disponibilidade de moradias estudantis é limitada. Na capital, um dos poucos exemplos é o Conjunto Residencial da USP (Crusp) que oferece 1.600 vagas para estudantes de graduação e de pós-graduação em condição de vulnerabilidade socioeconômica.

Na Unesp, as moradias estudantis são destinadas ao mesmo público - no total, são 1.240 vagas em 13 cidades paulistas.

Quando existentes, as moradias podem não oferecer a infraestrutura e serviços básicos (mercados, farmácias) encontrados em campi de universidades no exterior. "A moradia estudantil é uma das questões-chave para permanência dos estudantes na universidade", diz Anderson Nakano, professor do Instituto das Cidades da Unifesp e pesquisador do Observatório das Metrópoles.

Altos índices de desistência

A falta de conhecimento sobre esses fatores pode levar à desistência. "Muitos alunos confundem a insatisfação com a metodologia de ensino ou a cultura institucional com uma falta de gosto pelo curso em si", afirma Renata Condi.

No Brasil, 25% dos alunos abandonam o bacharelado ainda no 1º ano de acordo com a edição de 2025 do Education at a Glance, estudo que reúne estatísticas educacionais do Brasil e de mais de 40 países produzido anualmente pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Na média da entidade, o índice é de 13%, também considerado alto no relatório.

"Altas taxas de evasão no primeiro ano podem indicar um descompasso entre as expectativas dos alunos e o conteúdo ou exigências do curso, possivelmente refletindo falta de orientação profissional ou de apoio aos calouros", diz a análise do relatório.

Importância de apoio da universidade

São mudanças tão importantes e profundas na vida dos estudantes que exigem maior participação das próprias universidades na opinião de Claudia Costin, especialista em Políticas Educacionais e ex-diretora Global de Educação do Banco Mundial. Ela destaca a importância de suporte, principalmente psicológico, para os jovens.

"No exterior, as universidades oferecem bolsas para os outros gastos dos estudantes e que vão além do pagamento da mensalidade em si", exemplifica. "Talvez essa prática possa nos inspirar".

A USP informa que concedeu 4.561 novos auxílios a estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica só em 2025, com valores que vão de R$ 320 a R$ 850. Os contemplados com o auxílio-permanência têm direito a refeições gratuitas nos restaurantes universitários.

Mariana Freitas Nery, diretora executiva da Diretoria Executiva de Apoio e Permanência Estudantil da Unicamp, afirma que a universidade oferece unidades habitacionais com vagas individuais e estúdios para famílias, com internet, lavanderia e água gratuitos, além de energia subsidiada.

A diretora cita ainda o auxílio financeiro e projetos de expansão da moradia e parcerias com empresas do setor de alojamento estudantil para garantir mais vagas.

A Unesp informa que reservou em 2025 R$ 90,7 milhões à Permanência Estudantil, o que viabiliza auxílios socioeconômicos, moradia estudantil, auxílio transporte, auxílio-maternagem/paternagem, subsídio alimentação, entre outros, e R$ 27 milhões ao programa Sans, que ajuda na oferta de alimentação a preços acessíveis nos campus.

Onde buscar informações sobre as universidades

  • Sites oficiais das universidades: informações sobre cursos, processos seletivos e infraestrutura.
  • Redes sociais de alunos e atléticas: rotina, eventos e destaques da vida acadêmica.
  • Plataformas de Avaliação: sites que comparam instituições e fornecem detalhes como número de alunos por professor, laboratórios e serviços de saúde.
  • Feiras de profissões e Eventos "Portas Abertas" (Open Day/Virtual Tour): visita às instalações das universidades (presencial ou virtualmente).
  • Profissionais e Mentores: Orientadores vocacionais ou de estudos podem auxiliar na pesquisa, na criação de planos (ex: plano A no exterior, plano B no Brasil) e na elaboração de planilhas de custos (mensalidades, moradia, custo de vida).
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