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Com a inflexão dos Estados Unidos na crise diplomática com o Brasil, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva trabalha para reconstruir a confiança mútua e “descontaminar” a relação bilateral. Há preocupação em Brasília de que Donald Trump, aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, possa tentar interferir na política interna brasileira em 2026, ano eleitoral, causando mais estragos nos investimentos e no comércio bilateral.
Segundo interlocutores do governo brasileiro, a estratégia consiste em retirar da agenda temas de política interna que comprometeram a interlocução entre Brasília e Washington. Nesse contexto, a situação de Bolsonaro — condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) — não deve integrar as conversas oficiais entre os dois países.
A abertura do diálogo, após um telefonema entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump na última segunda-feira, não significa que tudo será resolvido a curto prazo, afirmam pessoas familiarizadas com o assunto. Mas a prioridade é concentrar os esforços na retirada de sanções aplicadas a cidadãos brasileiros, com destaque para o ministro do STF Alexandre de Moraes, e no fim da sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros, em vigor desde agosto deste ano.
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Uma reunião presencial entre Lula e Trump deverá ocorrer nos próximos dias. Um dos locais mais prováveis seria na Malásia, no fim deste mês, à margem da cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN). Mas será preciso espaço nas agendas presidenciais. Reservadamente, autoridades brasileiras admitem que, se o encontro não ocorrer em Kuala Lumpur, dificilmente será realizado ainda este ano, a não ser que Trump vá a Belém (PA), em novembro, para participar da COP30 — hipótese considerada improvável.
Nesta quinta-feira, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, telefonou para o chanceler Mauro Vieira. Os dois combinaram de se encontrar em breve em Washington, reunião que deverá ocorrer apenas em meados da próxima semana, já que Rubio acompanhará Trump em viagem ao Egito, caso a visita seja confirmada.
Conforme O GLOBO antecipou na quarta-feira, há percepção em Brasília de que os EUA estão corrigindo a rota por uma razão essencialmente pragmática: Washington teria percebido que não pode continuar relegando a relação com o Brasil.
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Produtos amplamente consumidos pelos americanos, como café e carnes, ficaram bem mais caros. Na conversa com Lula, Trump teria afirmado que o povo americano sente falta do café brasileiro.
Além disso, interlocutores do governo brasileiro avaliam que a política de pressão conduzida pela Casa Branca não produziu os resultados esperados. Ainda assim, defendem cautela, à espera das próximas conversas entre autoridades dos dois países.