Filhos de Caio Júnior transformam dor em missão da vida e mantêm legado do pai no futebol

há 1 mês 14
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Carreiras, sonhos e vidas foram interrompidas quando o avião da Chapecoense caiu na Colômbia em novembro de 2016. Entre as 71 vítimas estava Caio Júnior, ex-treinador de Palmeiras e Botafogo. Quase 10 anos depois, os filhos Matheus Saroli e Gabriel Saroli buscam manter o legado do pai no esporte.

Filho mais velho de Caio Júnior, Matheus tem 33 anos e é um dos sócios - e também executivo de futebol - do Hope Internacional, clube paranaense fundado em 2022. Já Gabriel, de 29 anos, seguiu os passos do pai e é treinador do sub-15 do Coritiba.

Em entrevista à ESPN.com.br, Matheus e Gabriel revelaram que suas carreiras quase foram interrompidas antes mesmo de serem iniciadas. A morte do pai na tragédia envolvendo o avião da Chapecoense fez a dupla pensar em largar no futebol.

"Foi bem difícil, porque tudo nos lembrava o acidente. Nós perdemos não só nosso pai, mas duas pessoas muito importantes: o Pipe (analista) era meu amigo de infância e o Duca (auxiliar) era nosso primo. Eu me distanciei bastante, não conseguia assistir aos jogos", contou Matheus.

"Como o passar dos anos eu acabei retornando, consegui trabalhar com o Marcelo Lipatin, que era o agente do meu pai, ele me deu uma oportunidade na empresa de representação de atletas e também teve um período que fui comentarista na Rádio Banda B, de Curitiba. Isso para mim era muito motivador. Foram anos bem difíceis em função do trauma, era difícil manter a compostura, de conseguir falar sem se emocionar", completou.

Matheus Saroli, inclusive, foi uma das últimas pessoas a ter contato com Caio Júnior antes do acidente. Na época com 25 anos, ele só não embarcou para a Colômbia com o pai por causa de um mal-entendido com o passaporte.

"Meu pai tinha criado uma regra no início da Sul-Americana que familiares não viajariam em voos fretados. Eu fui para São Paulo contra o Palmeiras, fiquei no hotel e na segunda-feira seria a viagem para a Colômbia. E a princípio eu não iria, mas fiz de tudo para ir e acabei convencendo ele. Quando estava no elevador, só eu e meu pai, ele perguntou 'cadê seu passaporte?'. Eu disse que não havia levado. Nós não sabíamos que eu poderia embarcar só com outro documento, a CNH ou RG. Eu acabei não indo. Passei anos tentando entender porque isso aconteceu dessa maneira, mas hoje dou Graças a Deus por estar vivo, por ter minha família", destacou.

Assim como o irmão, Gabriel também pensou em seguir outro caminho após o acidente. Formado em Educação Física, o filho mais novo de Caio Júnior tinha como objetivo fazer parte da comissão técnica do pai.

"Foi realmente muito difícil. Nossa vida sempre foi 100% ligada ao futebol, acompanhando meu pai, o dia a dia. O futebol faz parte da nossa vida. Depois do acidente, foi muito difícil pensar em seguir no futebol sem ele, isso para mim não fazia sentido. Ao mesmo tempo, esses três, quatro anos que nós passamos sem trabalhar com futebol também foi muito difícil, porque parecia que não tinha um propósito", disse Gabriel Saroli.

"Em 2019 eu fui fazer um curso da CBF em São Paulo e lá acabei assistindo um treino do Corinthians, o treinador era o Carille, o auxiliar era o Leandro Cuquinha, os dois eram muito amigos do meu pai. Foi a primeira vez depois do acidente que eu voltei para um ambiente de treino. Eu lembro que foi muito marcante para mim, que até o cheiro da grama acendeu uma chama de volta. Naquele dia eu defini que iria voltar a me capacitar e me preparar para o futebol", revelou.

Legado de Caio Júnior

O legado deixado por Caio Júnior para os filhos vai além da paixão pelo esporte. Matheus e Gabriel levaram o trato o humano do pai como principal aprendizado. Não é à toa que os dois trabalham na formação de atletas.

Matheus Saroli é um dos três sócios do Hope Internacional, que foi fundado em 2022 e tem como objetivo principal a formação de atletas. O filho de Caio Júnior também é coordenador do profissional, do sub-20 e do sub-15.

Já Gabriel Saroli começou a carreira de treinador no sub-23 do Atlético Atlanta, dos Estados Unidos, e chegou a ser auxiliar do Paraná antes de voltar a trabalhar nas categorias de base, passando pelo Hope Internacional até ser contratado pelo Coritiba, onde dirige o sub-15.

"O que eu carrego comigo é essa vontade de poder ajudar as pessoas, de poder oportunizar, de tratar todos da mesma maneira. É isso que marca o legado dele e espero que o meu legado seja esse também. A gente carrega dentro de nós, tanto que seguimos nesse caminho. Meu irmão na parte mais técnica, dentro de campo, mas com um papel importantíssimo. É uma responsabilidade grande, porque você precisa auxiliá-los, não deixar eles desanimarem, porque é um caminho difícil, você tem muitas derrotas no caminho e a gente tenta auxiliá-los para que consigam passar por esses momentos de mais dificuldades", afirmou Matheus Saroli.

"Falando do lado do campo, meu pai sempre falava e buscava em ter equipes mais ofensivas, isso é algo que eu prezo. Mas o principal que eu tento levar pra minha vida pessoal e profissional é o lado humano que ele tinha, o tratamento com as pessoas dentro do clube, fora, esse tratamento humano, a importância de olhar para as pessoas como pessoas, a questão dos relacionamentos que nós construímos, o caráter, o profissionalismo", reforçou Gabriel Saroli.

É com a missão de manter o legado do pai que os filhos de Caio Júnior vão construindo seus caminhos no futebol!

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