Fed pode estar errando ao afrouxar política monetária, diz Bruno Serra, da Itaú Asset

há 15 horas 2
ANUNCIE AQUI

Em um momento de aparente euforia nos mercados globais, o portfolio manager dos fundos Janeiro da Itaú Asset, Bruno Serra Fernandes, avalia que o Federal Reserve (o Fed, banco central dos EUA) pode estar errando ao afrouxar a política monetária.

“O banco central americano está correndo o risco de gerar um efeito inflacionário adiante”, afirmou o ex-diretor do Banco Central do Brasil, ao analisar o cenário dos Estados Unidos ao participar do podcast Stock Pickers, apresentado por Lucas Collazo.

Mercado americano em desequilíbrio

O CIO do Itaú Janeiro destacou a combinação incomum que vem marcando a economia americana: bolsa, ouro e bitcoin em alta, ao mesmo tempo em que o emprego dá sinais de enfraquecimento. Para ele, essa leitura é enganosa.

“O mercado de trabalho não está tão fraco quanto parece. Há distorções sazonais no pós-pandemia e choques na oferta de mão de obra por conta das restrições à imigração impostas por Donald Trump”, explicou.

Segundo o gestor, o Fed se baseou em dados imprecisos do payroll ao cortar juros.

“A política de imigração reduziu a entrada de trabalhadores, e isso impacta o dado de desemprego. O Fed interpretou esse movimento como fraqueza da economia e reagiu de forma prematura”, avaliou.

Continua depois da publicidade

O resultado, segundo ele, é uma liquidez crescente em um ambiente que não está, de fato, recessivo.

“É liquidez em uma economia que vai bem. Por isso, vemos bolsa, ouro e bitcoin bombando”

Do Banco Central ao buy side

Ex-diretor de Política Monetária do Banco Central, Serra voltou ao mercado para liderar o fundo Itaú Janeiro. O gestor comentou ainda a importância de um processo robusto de investimentos que resista a erros de leitura conjuntural.

“O jogo da gestão não é o jogo de dar call. É o jogo de sobreviver aos calls errados e maximizar os certos”, afirmou Serra, ao comentar críticas que recebeu em episódios anteriores por previsões sobre o dólar que não se concretizaram.

Mesmo com o erro pontual, o fundo manteve desempenho positivo, o que, segundo ele, “prova a resiliência do processo de gestão”.

Fed corre risco de errar a mão

Ao ser questionado sobre o dilema de Jerome Powell, presidente do Fed, Serra avaliou que a autoridade monetária americana deveria adotar mais cautela antes de avançar no ciclo de cortes.

“Meu diagnóstico seria para não sair cortando juros. A inflação projetada para 2026 subiu de 2% para 2,6%, mesmo sem o efeito direto das tarifas. Isso mostra que o risco inflacionário está voltando”, alertou.

Continua depois da publicidade

O gestor argumenta que a política de tarifas de Trump gera choques de produtividade e pressiona preços.

“O fiscal americano não se ajustou. Na prática, há um estímulo fiscal indireto, especialmente para investimentos.”

Diante disso, ele considera que Powell está “se aventurando ao reduzir juros com o desemprego estável e a inflação ainda pressionada.

Tarifas e incerteza à frente

Na visão de Serra, o “choque Trump” ainda não foi totalmente precificado pelos mercados.

Continua depois da publicidade

“Estamos diante do maior aumento de tarifas desde a década de 1960. É muito difícil modelar esse impacto. Pode haver uma substituição de importações dentro dos EUA, mas com custos mais altos e perda de produtividade”, afirmou.

Ele acredita que, apesar do barulho político e da volatilidade, a economia americana segue resiliente.

“Os fundamentos seguem sólidos, mas o Fed precisa tomar cuidado para não reacender a inflação num ciclo de liquidez artificial”, concluiu.

Ler artigo completo