Dólar rompe resistência técnica com incerteza fiscal, risco global e eleição no radar

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Após semanas de consolidação, o dólar rompeu uma faixa técnica importante e voltou a subir com força, refletindo o aumento da desconfiança fiscal no Brasil e os temores ligados com a antecipação do cenário eleitoral de 2026.

Enquanto isso, a derrubada da MP 1303 reacendeu o debate sobre o equilíbrio das contas públicas. O episódio levantou dúvidas sobre a capacidade do governo de cumprir metas em um ano pré-eleitoral.

No exterior, a escalada tarifária entre Estados Unidos e China trouxe mais ruído aos mercados, elevando o risco de estagflação global e pressionando moedas emergentes como o real. Diante desse quadro de incertezas internas e externas, o câmbio voltou a ser o principal termômetro do risco-Brasil.

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Em entrevista ao InfoMoney, o economista, analista e influenciador da Clear corretora Rafael Perretti, destacou que o movimento recente do câmbio está diretamente ligado ao momento político-econômico do país e ao fracasso de medidas que visavam aumentar a arrecadação federal.

Desconfiança fiscal reacende pressão sobre o dólar

A semana foi marcada por incertezas fiscais, ruídos políticos e medidas provisórias frustradas. Para Perretti, esses elementos explicam a pressão recente sobre o câmbio. “Esses fatos fizeram com que o dólar subisse nesses últimos dias, principalmente quinta (09) e sexta-feira (10). A gente passa por um momento mais delicado em relação ao nosso fiscal”, afirma Perretti.

Segundo ele, o governo abriu mão de arrecadação ao ampliar a isenção do Imposto de Renda para salários de até R$5 mil, sem conseguir compensar essa perda após a derrubada da MP 1303.

 A proposta previa uma série de medidas para aumentar a receita, como a alíquota única de 18% sobre aplicações financeiras, a taxação de dividendos em 10%, a cobrança de 5% sobre investimentos que até então eram isentos, como LCI, LCA, CRI e CRA, entre outras medidas.

“Eles não conseguiram passar a MP 1303 no Congresso o que trouxe uma instabilidade, uma maior incerteza sobre as contas públicas de 2026. Será que o Brasil vai conseguir bater a meta?”, questiona.

Eleições de 2026 entra no radar do mercado

Perretti lembra que o calendário político também passou a influenciar o câmbio, já que falta apenas um ano para as eleições presidenciais. Ele observa que, historicamente, governos que chegam a esse período com saldo positivo entre aprovação e reprovação tendem a se reeleger, enquanto aqueles em situação desfavorável costumam perder força nas urnas.

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“Falta um ano para a disputa eleitoral do ano que vem e está muito acirrada. Hoje o Lula tem 49% de reprovação e 48% de aprovação, o que deixa ele exatamente no zero a zero. O que sinaliza que a eleição do ano que vem vai ser muito volátil”, observa.

O especialista alerta para a possibilidade de novas medidas populistas que pressionam ainda mais o orçamento federal, como a tentativa recente do governo de isentar tarifas de ônibus.

Tensões entre EUA e China

No cenário externo, Perretti também chama atenção para a escalada da guerra comercial entre Estados Unidos e China, especialmente após Donald Trump anunciar uma tarifa de 100% sobre produtos chineses. “Aqui mora um ponto de interrogação. Com essa disputa tarifária entre as duas principais economias do mundo, aumenta a incerteza sobre o crescimento global”, explica.

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Perretti avalia que o impacto dessa medida ainda é difícil de mensurar. Isso porque, segundo ele, embora o dólar costume ser visto como ativo de proteção em momentos de aversão a risco, o fato de os Estados Unidos estarem diretamente envolvidos nesse conflito pode mudar a dinâmica.

“Quando se tem esse receio, os investidores recorrem aos ativos de proteção, que no caso seria o dólar. Mas como os Estados Unidos estão dentro dessa guerra tarifária, pode ser que o dólar também se deprecie”, pondera Perretti.

Para ele, a guerra comercial pode desencadear um processo de inflação com desaceleração econômica global. “Com as tarifas implementadas, a gente tem a perspectiva de aumento dos preços. Então causa inflação e causa uma queda na atividade econômica. A gente pode ter aí o pior cenário, de estagflação, caso isso permaneça no longo prazo”, alerta.

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Perretti avalia que a medida implementada por Donald Trump pode ter efeitos ambíguos sobre o dólar: de um lado, há a possibilidade de valorização da moeda americana caso investidores busquem ativos de proteção diante do aumento do risco global; por outro, o próprio envolvimento dos Estados Unidos na guerra tarifária pode enfraquecer o dólar, já que as consequências econômicas da medida — como queda na atividade e pressão inflacionária — também afetam diretamente a economia americana.

“Esta segunda-feira (13) vai ser um dia curioso para entender como o dólar vai se comportar dado o cenário externo de guerra tarifária”, pondera.

Análise técnica: dólar rompe resistência e pode acelerar

Ao analisar o gráfico, Perretti destaca que o dólar vinha em tendência de baixa ao longo de 2025, mas entrou em consolidação desde setembro, após o corte de juros pelo Federal Reserve. “A meu ver, por que essa consolidação? Primeiro, porque ele já caiu muito, e está nas mínimas anuais. Segundo, também porque ficou um pouco de incerteza sobre a continuidade de corte de juros por parte do Fed”, afirma.

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Esse cenário levou à formação de um movimento lateral no câmbio. “O dólar consolidou entre as mínimas anuais em região de pullback. Quando rompida a resistência dessa acumulação, 5.420 pontos, o dólar poderia acelerar esse movimento comprador, e foi exatamente isso que aconteceu”, conclui Perretti.

Do ponto de vista técnico, o rompimento não aconteceu por acaso, mas foi sustentado por fatores macroeconômicos e políticos. “Pela análise técnica, a gente teve um rompimento de uma resistência de uma acumulação pautada em cima da incerteza sobre o equilíbrio das contas públicas, eleição de 2026 e cenário externo”, explica.

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