Compra da Desktop seria estratégica para Claro e impactaria pouco a AMX

há 1 dia 2
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(crédito: Freepik)

A possível compra da Desktop seria estratégica para a Claro, como forma de colocar a empresa em uma posição mais forte no que diz respeito à competição no mercado de banda larga em fibra óptica, e teria impacto limitado sobre as finanças da América Móvil (AMX), controladora da tele brasileira.

A avaliação é de analistas do BTG Pactual e vem na esteira da confirmação pela própria Desktop, no dia anterior, de que está em conversas com a Claro sobre uma potencial venda de suas operações. Vale destacar que na terça-feira, 7, as ações do provedor paulista (DESK3) tiveram valorização de 9,71% na B3, fechando cotadas a R$ 11,30.

Na avaliação do BTG, "o acordo faz sentido estratégico para a AMX", uma vez que, embora a Claro seja líder no mercado de banda larga no País (10,47 milhões de acessos), a maior parte da base ainda se conecta via cabo coaxial, uma tecnologia inferior à fibra para o serviço de transmissão de dados.

Conforme dados reportados à Anatel referentes ao mês de agosto, a Claro tinha pouco mais de 8,05 milhões de clientes conectados com cabo coaxial (76,8% do base de banda larga) e 2,34 milhões em fibra óptica (22,3%). Também há uma fatia residual conectada via satélite e cabo metálico.

Desse modo, a aquisição da Desktop, provedor de fibra com uma carteira de 1,19 milhão de clientes espalhados pelo interior e litoral paulista, aceleraria o processo de migração tecnológica da Claro.

"A aquisição da Desktop aceleraria essa migração, já que a empresa traz 1,2 milhão de clientes de fibra óptica e uma infraestrutura de fibra óptica que a Claro pode usar imediatamente para afastar seus clientes de sua tecnologia legada", ressalta o BTG.

Além disso, como reportado por TELETIME na véspera, o acordo tornaria a Claro líder no mercado de banda larga no estado de São Paulo. Atualmente, a empresa tem 4,52 milhões de assinantes paulistas (28,3% do market share no estado), atrás da Vivo, cuja base alcança 4,82 milhões de clientes no estado mais populoso do País (30,2% de market share).

A Desktop é justamente a terceira colocada em São Paulo, com 7,5% de participação de mercado. O relatório do BTG indica que, caso o processo de fusão e aquisição (M&A) se concretize, a participação da Claro no território paulista sobe para 36%.

Impacto financeiro

Os analistas do BTG ainda apontam que, embora estrategicamente importante para a Claro, a transação "é relativamente pequena para a AMX e teria apenas um impacto limitado na alavancagem da empresa".

Segundo o relatório, tendo em vista o valor empresarial da Desktop (R$ 2,94 bilhões e capitalização de mercado de R$ 1,3 bilhão) e o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização nos últimos 12 meses (Ebtida LTM), na casa de R$ 605 milhões, é possível que a AMX tenha que pagar um prêmio sobre o preço de mercado do provedor paulista. Contudo, também há sinergias que seriam obtidas por meio do negócio.

Em resumo, após o acordo, o BTG estima que a alavancagem consolidada (dívida líquida/Ebtida) da AMX aumentaria de 1,56x para 1,58x.

"Em nossa opinião, a aquisição da Desktop dificilmente alterará a capacidade da AMX de continuar a aumentar a distribuição aos acionistas (por meio de dividendos e recompras) nos próximos anos", pontuam os analistas.

O banco também indica que o acordo, caso se concretize, simbolizará a terceira fase do processo de consolidação do mercado de banda larga, no qual as grandes operadoras passam a liderar as aquisições. As demais etapas são marcadas por provedores maiores comprando menores (como a própria Desktop já fez) e pela consolidação de entre grandes ISPs (Vero e Americanet, por exemplo).

Reavaliação de ISPs

Já o analista da Suno Research, Bernardo Viero, aponta que o negócio pode fazer com que o mercado reavalie o valor dos provedores de serviços de Internet (ISPs) na bolsa.

Segundo ele, a Desktop tem apresentado um valor de mercado 123% superior ao atual (R$ 2,9 bilhões e R$ 2,5 mil por acesso), considerando a média de 7,5 vezes em que a empresa se autoavalia, descontando a dívida líquida ajustada.

"Não há como saber exatamente em que fase estão as negociações e tampouco se a Claro aceitaria a autoavaliação relatada, mas o movimento serve como uma sinalização em prol do entendimento de que alguns ISPs estão relevantemente subavaliados em bolsa ante o patamar de resultados que vem sendo entregue", analisa Viero.

Sendo assim, ele afirma que possíveis transações entre provedores e incumbentes podem "servir de gatilhos para o mercado passar a enxergar o valor dessas teses de investimento".

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