Amostras da Lua coletadas em 1972 são abertas pela primeira vez

há 6 dias 3
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A última expedição tripulada à Lua aconteceu há mais de 50 anos, com Harrison Schmitt e Eugene Cernan sendo os últimos astronautas a pisar na superfície lunar desde então. Durante a missão Apollo 17, amostras de rochas e poeira lunar foram coletadas para que pudessem servir de objeto de pesquisa no futuro, quando instrumentos mais avançados fossem desenvolvidos.

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Muitas das amostras permaneceram intactas até a NASA iniciar o Apollo Generation Sample Analysis, programa que tem gradualmente liberado esses materiais para estudo por pesquisadores e instituições renomadas. É o caso da equipe liderada pelo professor James Dottin, da Universidade Brown, nos EUA, que verificou uma diferença surpreendente entre as proporções de isótopos de enxofre encontrados na Lua e na Terra.

Como estudar rochas lunares?

Cientistas acreditam que a formação da Lua aconteceu a partir da colisão de um protoplaneta (planeta em formação) do tamanho de Marte – chamado Theia – com a Terra. Os detritos resultantes do impacto eventualmente se juntaram para formar a Lua. Por conta disso, muitas propriedades químicas do solo lunar se assemelham às do solo terrestre.

Os pesquisadores do estudo publicado em setembro na revista científica JGR Planets trabalharam com um “tubo de dupla perfuração”, uma amostra de regolito lunar no formato de um tubo cilíndrico de 60 centímetros. O material contém camadas do solo logo abaixo da superfície da Lua e permaneceu intacto desde que chegou à Terra.

Dottin e sua equipe investigaram as proporções isotópicas do enxofre presente nas amostras, já que elas podem revelar indícios da origem das rochas e semelhanças com outros materiais conhecidos. A análise foi feita usando a técnica de espectrometria de massa de íons secundários, um método altamente preciso que nem existia em 1972.

 Divulgação/Brown University Em laboratórios de alta tecnologia, Dottin e seus colegas de pesquisa analisaram os dados da espectrometria de massa de íons secundários em amostras da Apollo 17 — Foto: Divulgação/Brown University

O material vulcânico apresentou compostos de enxofre pobres em enxofre-33 (com 33 nêutrons), um dos isótopos radioativamente estáveis do elemento. O resultado contrasta fortemente com o que se encontra na Terra, o que surpreendeu a equipe.

“Antes disso, pensava-se que o manto lunar tinha a mesma composição isotópica de enxofre da Terra. Era o que eu esperava ver ao analisar essas amostras, mas, em vez disso, vimos valores muito diferentes de tudo o que encontramos na Terra. Meu primeiro pensamento foi ‘Caramba, isso não pode estar certo’. Então, voltamos para ter certeza de que tínhamos feito tudo corretamente, e tínhamos. Esses são resultados muito surpreendentes”, relata Dottin, em comunicado.

Traços de Theia ou da Terra?

 U.S. National Archives/Picryl A missão Apollo 17 foi marcada por ser a primeira a incluir um cientista na tripulação: o geólogo Harrison Schmitt, que atuou como piloto do módulo lunar — Foto: U.S. National Archives/Picryl

Segundo os cientistas, haveria duas explicações para a diferença de proporções isotópicas de enxofre. A primeira é que as rochas da amostra não teriam origem na Terra, mas de Theia, sendo a Lua composta pelo material do protoplaneta em proporções bem maiores do que se pensava.

Outra explicação se baseia na teoria de que o enxofre-33 tenha se empobrecido a partir da formação da Lua. Suspeita-se que o satélite já esteve envolto por uma fina atmosfera. As reações químicas do enxofre presente na breve atmosfera poderiam ter levado a uma redução deste composto.

“Isso seria uma evidência de uma antiga troca de materiais da superfície lunar para o manto,” disse Dottin. “Na Terra, temos a tectônica de placas que faz isso, mas a Lua não tem tectônica de placas. Então, essa ideia de algum tipo de mecanismo de troca na Lua primitiva é empolgante”, explica o professor.

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